25 horas de punho erguido

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19/04/2013 - 23:06

Colunistas Fael Lima2 - 25 horas de punho erguido

Fui o último a entrar no avião, atrasado como sempre, rumo a São Paulo. Quase todos os passageiros me olharam com cara feia, exceto os que vestiam o Manto preto e branco. Dos que não vestiam, apenas um ignorou a cena, continuou sentado e olhando para a janela. Um filme deve passar por aquela cabeça sempre que deixa BH para assistir a um jogo do Galo. Ele permanecia parado, olhando o horizonte, enquanto eu olhava para a careca reluzente que um dia foi Black Power. O silêncio permaneceu até que um Atleticano soltou a voz – “Rei, ô Reinaldo, tira uma foto comigo?”.

61546 4016379346969 664183801 n 300x300 - 25 horas de punho erguidoFui convidado a transmitir o jogo ao lado dele pela Rádio Estadão da capital paulista. Ainda não acreditava no que estava por acontecer, era o Rei Reinaldo, o mesmo da fita VHS que eu soprava sempre que ia assistir, ao meu lado, em uma cabine de rádio. Tentei ser frio como os jornalistas costumam pregar e me aproximei sem a intenção de falar sobre futebol, afinal ele deve ouvir sobre o assunto todo dia. Decidi comentar sobre o aquecimento do mercado na venda de passagens aéreas graças ao... Antes que eu terminasse meu pensamento, ele já mandou o recado – “Tem que ganhar, não pode entrar de salto alto.”.

Lembrei-me da frase que ouvi a muitos anos de um músico que torce pelo rival, onde ele dizia que a diferença entre os clubes é que jogador sai do clube azul e se torna ex-jogador, enquanto os que deixam o Galo se tornam Atleticanos. O Rei não falava de outra coisa, se dependesse dele a cidade cinza seria conhecida como a cidade preta e branca após aquela quarta.

Quando entramos na cabine, ele falava sobre as motivações que todos deviam ter no vestiário. Acho que no fundo ele queria estar naquela preleção, falar que esse time pode fazer o que ele tentou e não conseguiu, passar aos jogadores a importância do título, quem sabe pedir uma chance ao treinador para jogar ao lado de Ronaldinho naquela noite. Bastava o juiz segurar o jogo para o eterno camisa nove se levantar da cadeira com palavras direcionadas à alguma mãe que não estava na cabine. O Rei sabe do poder de um juiz em decidir uma partida.

544100 4017347171164 1596565845 n 300x300 - 25 horas de punho erguidoFicar 25 horas ao lado do Rei Reinaldo me fez sentir uma criança novamente, quando eu imaginava todos torcendo e respeitando o Atlético acima de qualquer interesse pessoal. No dia seguinte, sem a adrenalina do jogo, fiquei alguns segundos sem ouvir comentários sobre o Atlético, a próxima fase ou a Libertadores em geral. Imaginei que finalmente o Rei havia deixado de pensar no Galo. Um grande equívoco. Ele apenas fitava o olhar do outro lado do aeroporto para ter a certeza se era um conhecido que acabara de passar pelo portão de embarque. Nas 25 horas ao lado do Rei, foram os únicos segundos sem GALO dominando o ambiente. Após os segundos de silêncio, com a certeza que era quem ele imaginava, Reinaldo pensou se falava ou não sobre o jogo do dia anterior com o amigo, afinal era outro que provavelmente falara muito sobre a partida decisiva. Respirou fundo e soltou – “Ô Mário Caixa, esquenta não. Essa taça é nossa!”

Fael Lima

ABRAÇO NAÇÃO!

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