A pergunta de Isabela

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25/07/2011 - 13:11

DSC057781 300x168 - A pergunta de Isabela

Porta do Hotel onde o time do Atlético chegaria para hospedar-se em Ipatinga. Encontro de atleticanos, faixas de protesto, gritos de revolta, idosos, adultos, homens, mulheres e algumas crianças. Entre os pequeninos, encontro Isabella, uma garotinha de, no máximo, 10 anos. Não lembrei de perguntar a idade, pois a sequência de cenas e falas com a pequena atleticana foi quase que uma hipnose.

Ela não entendia o motivo dos seus heróis da TV serem recebidos com vaias e palavras que ela mal entendia o significado. Veio com a família de Dom Cavati, pequena cidade do interior de Minas, para ver uma guerra de insultos entre atleticanos e profissionais do Atlético.

Talvez seu instinto de permanecer atleticana apague da sua memória aquelas palavras e fique somente o momento de ver de perto os jogadores que ela sabe nome por nome. Sim... Ela sabe escalações, nomes de ex-jogadores, sabe quem foi para o banco e em determinado momento deu seu pitaco. “O Renan é que deveria ser o goleiro titular”. Uma garotinha nos primeiros anos de vida dando um show de conhecimento em qualquer marmanjo rival que pouco sabe sobre o clube.

Ela ainda não estava com o ingresso garantido, então desafiou os que vendiam com um preço salgado. As frases de efeito, a vontade e a paixão pelo Galo me conquistaram. Propus a ela – “Isa, quer que eu te coloque para entrar com os jogadores?” – A resposta veio seca. “Não! Quero é o Galo. Não quero jogador.”

A frase da Isa, de face tão Bela, cortou minha garganta como a boa cachaça de Dom Cavati. Seu pai ria, mas não se espantava, pois se dizia acostumado com esses momentos em casa. Ainda narrou sobre a final do Mineiro, onde uma reza acontecia na casa, enquanto Isa assistia ao jogo na Tv. Quando Magno Alves perdeu o gol, as senhoras intensificaram as orações ao ouvir as palavras ditas pela atleticana. Hahahaha!!!!

A Isa valeu o dia! Fui para o estádio sem precisar ver mais nada em Ipatinga. Bom.... Na verdade, quase nada. Faltava a vitória do Galo.

Encontrei com a família novamente dentro do estádio. Isabela de cara fechada, pois ouvia provocações de alguém, sabendo de sua paixão incondicional. Registrei o momento com uma foto, mas a atleticana ainda me traria pensamentos durante o jogo.

Pensava eu – “Será que estamos fazendo uma festa bonita para justificar aquela paixão?... Quantas Isabelas se perdem pelo caminho, ao verem que esse túnel talvez não tenha luz em seu fim? Na escola, não há como ela explicar que ela é “dona” do melhor CT do país, afinal os amiguinhos não sabem o que é, e ela seria barrada na porta, caso quisesse aproximar-se do seu time.”

A partida ia chegando ao fim, pensei em ir até a turma para despedir-me, mas fiquei envergonhado, pois prometi uma vitória para a Isa-Bela. Voltei no tempo e lembrei-me dos momentos trancado no quarto após as derrotas, longe da família, segurando a camisa como um objeto de fé, fazendo uma prece imaginária. O mundo das crianças é mais puro. Os pequeninos têm licença até para recorrerem aos céus com a mais simples das perguntas. ‘Por que?’ – Por que a gente? Por que nunca dá certo? Por que ainda confiamos?

Talvez não tenha mais essa licença, talvez tenha deixado essa pureza e confiança nos homens pelo caminho, mas, representando a Isabela e outros milhões de atleticanos, pergunto aos céus, aos homens, aos profissionais e a todos que lerem essas linhas. Por quê?

ABRAÇO NAÇÃO!
Fael Lima

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