Depois da fronteira, continuamos Atleticanos

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01/03/2013 - 02:34

Desde que comprou a passagem para a Argentina, o Luís Augusto não pensava em outra coisa e talvez tenha sido por isso que ele esqueceu o documento de identidade em Pompéu, cidade do interior. Quando avisaram que ele não poderia embarcar, eu não queria estar na pele do Luís, que pagou 800 reais para um taxista buscar o documento na cidade. Com o valor da viagem para BH, multa por remarcar a viagem, alugar o taxi, entre outras coisas, a ida para a Argentina ficou pelo dobro do preço para o Luís, que não se arrepende. Nada nesse mundo pagaria o que ele viveu naquele Obelisco lotado.

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Foto: Lucas Cardoso

Vinte e quatro horas antes do Leonard de Assis embarcar para Buenos Aires, um médico avaliou seus exames e recomendou repouso, sem avião, aeroporto e tensão de jogo. Quando recebi a mensagem de boa viagem e da ausência do amigo, mesmo sem ver seu rosto, podia sentir um poço de tristeza em cada letra. Segundo os livros de medicina, ficar em BH faria bem ao coração do paciente. Queria encontrar esse médico para lhe contar sobre o ritmo alegre que o coração do Leonard estava quando Tardelli comemorou o gol em frente à grade. A mesma grade onde o Leonard segurava com força, como se estivesse com medo de que lhe tirassem à força dali.

Luís e Leonard, duas testemunhas que já se acostumaram com a genialidade de Ronaldinho em Minas Gerais. Um argentino, talvez por não estar tão acostumado assim, chorava aos berros ao conseguir tocar na mão do dentuço na entrada do hotel. “Era a mão de Ronaldinho, o Ronaldinho do Atlético...” – repetia o jovem, como se seu coração não fosse aguentar. Deveria pegar o contato do médico do Leonard.

Sem tocar na mão do camisa 10, mas com a mesma admiração, argentinos, peruanos, chilenos, chineses, coreanos, entre outros, paravam os Atleticanos pelas ruas só para gritar Galo. Bandeira, cachecol, boné, adesivo, queriam levar qualquer coisa que tivesse o escudo com as iniciais C.A.M para seu país de origem, assim ficaria mais fácil contar as cenas que viram na Argentina. Difícil é alguém que nunca tenha visto a Massa acreditar nesse eterno vício do Atleticano em realizar o impossível. O hino ecoava em qualquer lugar, a qualquer hora, mesmo que contando com a ajuda de torcedores do San Lorenzo, Boca, River, Estudiantes, Argentinos Juniors ou qualquer outro fã de futebol. Ignoravam o sotaque para aprender os ensinamentos do povo que invade outros territórios repetindo o carma “uma vez até morrer”.

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Foto: Fael Lima

Os aeroportos, as ruas, bares, lojas, estádio, todos com um mar de camisas Alvinegras, situação completamente normal, se não estivéssemos falando de um local onde a maioria visitava pela primeira vez. Como todas que carregam a cor, a camisa azul da Argentina era minoria. No futuro, ao abrir as fotos e vídeos desses dias, será necessário uma legenda explicando que tudo se passava em outro país. Eu estava lá e terei dificuldades em acreditar que não era a porta de um estádio em BH após mais uma vitória Atleticana.

Justo seria se todo Atleticano estivesse em Buenos Aires. Queria que cada um tivesse olhado pela janela do ônibus para ver o sorriso de um policial que escoltava a caravana com um boné do Clube Atlético Mineiro, queria virar para o lado e perguntar se meus olhos não estavam precisando de uma consulta com o médico do Leonard, pois vi um senhor usando uma faixa de plástico no pescoço e correndo como jovem ao lado do ônibus. Na faixa estava escrito GALO, o Galo que ele, o policial e tantos outros gritavam a todo momento. O Galo que o Leonard e o Luís não abandonam por nada, o Galo que fabrica tantos momentos para arrepiar cada parte do corpo. Justo seria se cada pessoa no mundo pudesse conhecer, mesmo que por poucos minutos, um pouco mais desse Galo. Quem sabe não veremos isso um dia? Pode ser que demore uns dias, pode ser que demore uns anos, mas não diga que algo é impossível para essa torcida.

Fael Lima

ABRAÇO NAÇÃO!

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