“Gaaaalllllooooooo!!!” – Foi esse o grito que cortou minha madrugada às 3 e meia da manhã. Não deu tempo de chegar até a janela para conferir se era um jovem ou um velho, se estava de camisa ou não, se estava acordando ou indo dormir.
Ainda no travesseiro lembrei que dia era. Havíamos perdido um título há poucas horas e o rival, da mesma cidade, já fazia reinar o silêncio. O único grito que ecoou na noite foi ‘Galo’.
Isso porque a ferida já estava fechada, mesmo com a lua ainda estampando o céu de Belo Horizonte. A mágica do Atlético de transformar lágrimas a molhar um travesseiro em um sorriso ao acordar e ver uma camisa alvinegra na cabeceira da cama acontece em poucas horas, às vezes em poucos minutos.
Aquele torcedor solitário na madrugada já comemorava o fato do Atlético estar em campo na próxima semana, um título inquestionável, de encher de orgulho qualquer coração. O louco, apaixonado, atleticano que atravessava as ruas não tinha a intenção de interromper os sonhos das crianças em suas camas. Por isso, o ‘Galooooo’ saiu na altura certa, nem alto, nem baixo, para que as crianças continuassem sonhando, mas sentissem um arrepio na cama, ao ouvirem que uma das primeiras palavras que aprenderam, seria eterna. Uma palavra que rompe o silêncio da noite, mesmo quando uma batalha foi perdida.
Hoje ainda veremos indícios de azul pelas calçadas, mas amanhã todo e qualquer pano azul será ofuscado pelo mar alvinegro que volta a tomar conta das ruas, pois a camisa atleticana não faz parte de uma festa, faz parte da pele de quem a veste.
E Galo, fique tranquilo, pois nenhum de nós pensa em te abandonar. Se o peito ainda sente o ritmo forte que esteve o coração na última tarde, amanhã esse mesmo peito ajudará a entoar mais forte os versos “Uma vez até morrer”, e viveremos sem precisar de festa ou de confetes. Se hoje o placar foi adverso, amanhã volta a campo uma goleada onde uma Nação vive com toda sua raça para vencer, enquanto a outra vive cheia de vaidades, e não há goleada maior que essa.
No próximo jogo estarei na arquibancada ao lado do homem que gritava na madrugada e da criança que repousava em silêncio, comemorando a maior vitória de todas – torcer para o Clube Atlético Mineiro.
ABRAÇO NAÇÃO!
Fael Lima
*Fotos: Gabriel Castro
