Muito prazer! Seu nome é Atleticano.

Um pequeno detalhe que roubou a cena na chegada do time em Confins

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29/04/2016 - 03:22

MG 2906 1024x683 - Muito prazer! Seu nome é Atleticano.

A bateria da Galoucura no aeroporto de Confins chamava a atenção das pessoas. Gente saindo de BH, gente chegando, trabalhadores que fazem parte da rotina do aeroporto, todos reunidos com celulares nas mãos e em variadas funções. Vi Atleticano fotografando, filmando e até ligando para o parente ouvir a torcida e matar um pouquinho da saudade da arquibancada. Deu pra matar a saudade até do Kalil. Antes do desembarque da delegação Atleticana, o maluco passou no meio da Massa. Talvez ele nem tenha lembrado que o Galo voltaria para BH no mesmo dia, mas o Alexandre e o Atlético têm um ímã natural e um não vive sem o outro por muito tempo.

Eu não queria conversa com ninguém, pois estava concentrado na música que a bateria acabara de começar, mas uma mulher insistiu em puxar papo. “Eu estou preocupada com o meu pai”, disse a moça encostada no portão de desembarque.

A frase me chamou a atenção, então deixei o “bota a cara” de lado enquanto ela continuava – “Meu pai sofreu 2 AVCs e ficou dias em uma UTI. Quando acordou, os médicos fizeram perguntas simples, mas ele não sabia nem o nome dele. Só lembrava que era Atleticano. Ficou um período lembrando apenas que era Atleticano. Ele vai adorar isso aqui, mas estou preocupada com toda essa emoção”.

Pronto! Agora eu não tinha cabeça para mais nada. O Robinho podia pousar em um planador e o Victor de balão que eu não conseguiria me concentrar novamente. Procurei pelo meu amigo Lobo Mauro para contar aquela história. Cineasta que é, ele certamente iria curtir o roteiro. Fomos à procura da mulher e a encontramos com uma mala ao lado. A bagagem era do Paulo Afonso, que não queria saber de mala nenhuma. Estava no meio da bateria da Galoucura e só lembrava que era Atleticano. Se estivessem ali, os médicos entenderiam a resposta dada pelo paciente após o segundo AVC.

O Atleticano Paulo Afonso não queria saber se era arquibancada ou aeroporto, afinal, se essa turma vestia preto e branco, essa era a turma dele. Tornou-se outra pessoa quando ouviu o verso “nós somos do Clube Atlético Mineiro”... Não importava se os jogadores chegariam após uma batalha difícil na Argentina pela Libertadores ou uma simples partida do Campeonato Mineiro, o Atleticano Paulo Afonso só queria gritar ‘Galo’. O treinador escalou aquele baixinho moreninho ou aquele grandão branquelo? Quem se importava com isso? O Atleticano Paulo Afonso só queria cantar.

Percebi que às vezes precisamos ser como o Atleticano Paulo Afonso e esquecer nossos nomes, esquecer o que nossos conhecidos dirão sobre o placar no dia seguinte, esquecer nossas preferências por fulano ou ciclano e só gritar ‘Galo’. Acordar em uma maca de hospital ou na nossa confortável cama e só pensar que hoje tem Atlético em campo e que a missão é fazer o Galo vencer. Recuperar a essência de torcer pelo Galo e esquecer o resto do mundo.

Como um zagueiro que cabeceia a bola na área adversária aos 42 minutos do segundo tempo de uma final e marca o gol que leva o jogo para a prorrogação, o Atleticano Paulo Afonso foi mais esperto que e correu pelo caminho certo. Mesmo na multidão, ficou cara a cara com Leonardo Silva e não quis falar sobre o jogo, nem sobre a Copa, muito menos passar recado para o técnico. Aproveitou o momento apenas para abraçar outro Atleticano.

Noite inesquecível! Que tenhamos milhares de Paulo Afonso nas nossas arquibancadas. E quando alguém perguntar se prefere o fulano ou o ciclano, se questionar a importância do jogo, se lhe convidarem a fazer parte das vaias, diga que você não se lembra do seu nome, não lembra onde trabalha e nem imagina quem é o treinador do time. Fale sobre as poucas lembranças que ficaram, o Manto Alvinegro, um escudo com três letras e a missão que permanece na memória; cantar, cantar e cantar para fazer o Galo vencer. Muito prazer. Seu nome é Atleticano!

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