O Galo de Marcelo Oliveira: sistema defensivo e a marcação individual

Por:
18/09/2016 - 00:31

Por: Lucas Silva (@LucasSilva1908)

Todo torcedor já jogou uma pelada com os amigos, né? E sempre, ao seu time perder a bola para o adversário, a maioria dos times marcam no famoso “cada um pega o seu”. Pois bem, é essa a forma utilizada por Marcelo Oliveira para combater os ataques adversários nos jogos do Galo. Mas mesmo sendo um estilo de marcação em desuso no futebol mundial – maioria das grandes equipes europeias e seleções utilizam a marcação por zona – não quer dizer, necessariamente, ser um modo ineficiente em função da ascensão de outra forma de marcar o oponente. A marcação por encaixe, ou individual, tem seus pontos positivos e negativos, logo, tentarei mostrar os muitos erros e alguns acertos do técnico Marcelo Oliveira em seu uso na equipe do Atlético.

(Clique aqui e saiba mais sobre marcação individual x marcação por zona)

Certo, mas como funciona? Simples: cada jogador do Galo, ao perder a posse da bola, fica encarregado de marcar um oponente rival e precisa acompanhá-lo até acabar a jogada. Se o Robinho está marcando o lateral rival e esse dá um pique, quem deve acompanhá-lo é o próprio Robinho, até o Atlético recuperar a bola.

Então, vamos aos erros e acertos desse estilo adotado pelo treinado pelo Marcelo Oliveira, acarretando em várias características do sistema defensivo alvinegro.

Marcação individual dificulta que o time jogue de forma compacta

É mesmo importante ser compacto na defesa? Claro que sim! A compactação deixa os jogadores marcando mais próximos, portanto, diminui os espaços para o oponente avançar. Assim, se um jogador da equipe que está marcando for driblado, haverá outro jogador próximo para não deixar o adversário livre com tempo para pensar na melhor decisão a tomar na jogada.

Mas qual a relação entre a marcação individual do Galo com a compactação? Bom, se cada jogador marca um rival “grudando” nele, então, os jogadores do Galo se distribuem para marcar de acordo com o posicionamento ofensivo do rival, como é ilustrado na imagem seguinte.

flagrante1 1024x402 - O Galo de Marcelo Oliveira: sistema defensivo e a marcação individual

Marcação individual impede compactação das linhas de marcação (Imagem: Reprodução/PFC)

Observe cada jogador do Galo bem próximo para marcar os jogadores do Vitória, só distanciando mais deles quando a bola está do lado oposto, ou seja, o jogador sabe que a bola não virá rapidamente para o aleta que está marcando na jogada. Mas como demonstrado na imagem, esse tipo de encaixe deixa um buraco enorme em frente ao meio da zaga do Galo. Todo treinador ama esse tipo de espaço gigantesco nas defesas adversárias, afinal alguns de seus treinos são para criar espaços entre as linhas rivais. Ou seja, o Galo já dá os espaços de bandeja para o oponente. Uma falha defensiva recorrente em vários jogos com Marcelo Oliveira.

É fácil perceber Fábio Santos distante da última linha formada por Carlos César, Leonardo Silva e Erazo. Percebendo o espaço vazio, um jogador da Chapecoense vai ocupá-lo e Rafael Carioca necessita se aproximar dele para não deixa-lo no mano a mano com Erazo. E esse deslocamento do volante alvinegro deixa Donizete solitário na marcação do meio-campo adversário, deixando desprotegido um setor vital para o controle do jogo.

flagrante2 - O Galo de Marcelo Oliveira: sistema defensivo e a marcação individual

Novamente, encaixes individuais desorganizam posicionamento defensivo (Imagem: Reprodução|@CaioGondo)

Posicionamento ruim ao defender, provoca desorganização no momento de atacar

Todo atleticano sabe que Maicosuel é o desafogo de velocidade no quarteto ofensivo. O gol do Pratto contra o São Paulo é um ótimo exemplo, pois é o veloz ponta quem inicia a criação da jogada com uma sequência de dribles. Mas observe a imagem seguinte.

flagrante3 - O Galo de Marcelo Oliveira: sistema defensivo e a marcação individual

(Imagem: Reprodução|@CaioGondo)

Observe o próprio Maicosuel acompanhando William Matheus. O ponta atleticano necessita de muito fôlego para ser o desafogo de velocidade nos contra-ataques e também marcar as subidas dos laterais adversários, atrapalhando o rendimento do time na defesa e no ataque.

Como o Galo não mantém um posicionamento mais ou menos fixo ao defender, é muito difícil manter um padrão para iniciar os contra-ataques ao recuperar a bola. Como treinar uma jogada se você não sabe onde estará cada jogador no momento do jogo?

E quando recuperamos a bola, há outra deficiência. Como escrevi acima, o Atlético marca com os jogadores bem próximos dos atletas rivais, logo, quando o Galo recuperar a bola o adversário também estará perto dos nossos jogadores. Logicamente, se o rival tiver por estilo de jogo uma rápida pressão para retomar a posse de bola, essa proximidade dos jogadores do Galo ajudará.

Relembrando o nosso último encontro com o Grêmio. A equipe gaúcha é reconhecida justamente tentar recuperar a bola rapidamente após perdê-la. Assim, a equipe de Roger Machado asfixiou o Galo e comandou a partida. Quem viu o jogo sabe a dificuldade que o Atlético teve em trocar três passes seguidos.

Os empecilhos para se realizar o estilo de marcação proposto por Marcelo

Talvez a maior falha da marcação individual seja quando o jogador é superado por um drible ou tabelinha do rival, assim, outro jogador é obrigado a fazer a cobertura. Logo, a sobra na defesa é perdida e todos ficam no mano a mano. Agora se o time adversário superar mais uma marcação, ficará em superioridade numérica na jogada e com maiores chances de realizar uma chance clara de gol.

Por isso a necessidade de alta intensidade quando se marca por encaixe, pois todos os jogadores precisam ser altamente compromissados na marcação. Tomou um drible? Nada de desistir da marcação, é hora de correr atrás do driblador e tentar recuperar a bola.

Beleza, o time deve ser implacável na marcação. Mas, olhando para o quarteto ofensivo vemos Robinho, Fred e Pratto. Então, como ser forte na marcação com dois jogadores acima dos 30 anos e um argentino acostumado a ser centroavante, com todos sem muitas características de marcação? Não falta comprometimento para eles, mas principalmente por questões físicas, é difícil marcar com intensidade.

Portanto, qual a razão do Galo ir bem na defesa em alguns jogos e depois tomar quatro gols em outros? Simples: o sistema defensivo, por ser feito com marcação individual, necessita de jogadores com ótima marcação no um contra um, casos de Erazo, Leonardo Silva, Marcos Rocha, Fábio Santos, Rafael Carioca... Por isso o time consegue uma boa segurança defensiva quando os titulares jogam. É fato que lesões atrapalham qualquer treinador, mas elas praticamente destroem com o frágil sistema defensivo do Marcelo Oliveira. Num time dependente das individualidades, não ter reservas no mesmo nível é desolador.

Marcação pressão e contra-ataque rápido constituem os bons momentos do Atlético de Marcelo Oliveira

O trabalho de Marcelo Oliveira também conta com acertos, que foram importantes para a reação da equipe no Campeonato Brasileiro. Como o time atleticano marca em função do adversário, então, quanto mais o rival tem a bola, provavelmente mais perto do gol estará. Logo, o Galo fica várias vezes do jogo recuado e próximo à sua meta, então, a transição, embora difícil de ser encaixada, porque os jogadores não estão organizados (como explicado anteriormente), se encaixar o time pega o rival com a defesa adiantada e pode, com jogadores rápidos e/ou inteligentes, casos de Fred, Robinho, Maicosuel e Cazares, chegar ao gol mais fácil.

Outro ponto: como a marcação por encaixe vai desorganizando o Galo à medida que o rival realiza sua transição da defesa para o ataque, é imprescindível a recuperação da bola já no campo do rival. Quanto mais rápido o time recupera a bola, menos desorganizado para atacar o adversário o Galo estará, porque os jogadores estarão próximos ou na mesma posição em que ficam quando o time ataca.

Para melhorar a situação, quando se recupera a bola no campo do rival, é normal pegar o rival de surpresa, porque o time está se preparando para atacar, ou seja, o rival fica bem mais vulnerável. E essa pressão logo após a perda da bola pelo Galo é feita, embora não realizada durante todos 90 minutos. Marcelo Oliveira treina sua equipe para, ao perder a posse da bola, recuperá-la rapidamente. Um ótimo exemplo: o primeiro gol do Galo contra o Santa Cruz. Todo o ataque avança a marcação, fecha as linhas de passe dos zagueiros do Santa Cruz e então Maicosuel recupera a bola muito perto da defesa adversária, iniciando a jogada do gol.

flagrante4 - O Galo de Marcelo Oliveira: sistema defensivo e a marcação individual

Atacantes pressionam de forma avançada e dão origem a jogada de gol (Foto: Reprodução/PFC)