Ser Monstro exige responsabilidade. Enfrentá-lo, exige muito mais!

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03/06/2016 - 17:14

O Tio Ben ensinou ao seu sobrinho que virou super herói: "grandes poderes trazem grandes responsabilidades".

Isso parece distante, já que no dia a dia não observamos em nós, pobres mortais, um poder que justifique o peso de uma suposta responsabilidade. Mas na verdade não é. É muito próximo!

Eu percebo quando vejo o meu filho imitando o que eu faço e querendo ser igual a mim. Pra ele, eu tenho superpoderes sim, e por isso qualquer ação precisa ser muito bem pensada. O exemplo que eu represento pra ele me exige muita RESPONSABILIDADE!

Isso é pessoal. Sei que vocês não leem esse blog pra saber da minha vida boa, então o que isso tem a ver com o GALO? Com o Clube Atlético Mineiro? Eu te respondo: tem muito a ver. Principalmente no nosso contexto atual.

Algumas décadas atras, quando a torcida "exigente" estava nos bago da internet dos nossos pais, a MASSA já era imensa, apaixonada e fazia cobranças. Sim. Ao contrário do que alguns dizem, nossos pais e os quarentão de hoje, a "geração Reinaldo" (termo pejorativo que define a geração que idolatra o REI, mesmo não sendo ele, campeão brasileiro) queriam ver o GALO vencer sim. Não aceitavam tudo. Nem time fraco, nem roubalheira, nem campanhas ruins. Eles só não tinham a internet pra mostrar o quanto achavam que se pudessem, jogariam melhor que o lateral, escalariam melhor que o Telê (chamado de burro no Mineirão), e não errariam o penalti em 77.

Não existe diferença alguma além do fato de a corneta ocorrer, naquela época, exclusivamente na resenha cotidiana e principalmente na arquibancada. Onde diga-se de passagem, eles podem nos dar aula hoje. Apoiando ou cornetando, eles criaram a fama que a gente vai perdendo a cada jogo que passa. A de torcida mais presente e fanática do Brasil.

Eles faziam tanto barulho mesmo sem internet, que o Kalil (filho) revelou décadas depois, a preocupação do Kalil (pai) com "O Monstro". Alexandre Kalil revelou que o pai perguntava: "e aí? Comé que tá o Monstro?" se referindo à torcida do GALO e como estava a satisfação da MASSA.

Entre o pai e o filho, as gestões foram terríveis. A preocupação com o clube era mínima e os resultados nesse período falam por si só. Mas as ações condiziam com as reclamações que vemos hoje. Muitas contratações e vários técnicos por temporada. Isso teve muito.

Já o Kalil filho, assim como o pai, mostrou a importância de um presidente que se preocupa com o sucesso do Atlético. Soube conviver com o Monstro, fazer o GALO vencer e teve o reconhecimento da torcida. Ele sabia que o que importa é o trabalho bem feito. O reconhecimento é consequência.

Por duas temporadas sua equipe administrou bem as dívidas e elevou o valor da marca enquanto tentava formar bons times em campo. Sim, tentou e deu errado. Mas como ele mesmo disse: "a torcida recebe o jogador/treinador no aeroporto, e quando dá errado, a culpa é da diretoria".

Até sermos campeões da Libertadores, foram 4 anos (1 mandato + 1 ano) de trabalho com o agravante da perda do Mineirão entre 2010 e 2012. Muitas decisões polêmicas, dentre elas, a manutenção do Cuca após um péssimo início e a goleada pro rival que poderia ser um histórico rebaixamento, e mais recentemente, a escolha do Independência como "casa do GALO". Foram seis anos comandando do jeito dele, e pelos dois últimos, entrou pra história do clube e é considerado, pelo Monstro, o melhor presidente da história.

Hoje, temos um novo presidente cujo staff é o mesmo que apoiou Alexandre Kalil. O trabalho é bem feito em campo, porém a interferência da torcida parece muito maior. Pra aumentar o desafio do Nepomuceno, a amplitude das reclamações também é muito maior. O monstro, hoje muito mais informatizado, está adequando o seu perfil aos recursos disponíveis e tem feito cada vez mais barulho na internet e no estádio. Não enchemos mais as arquibancadas como antes, mas existe um local estratégico que fica entre as cabines de transmissão e o banco de reservas do GALO. Local onde as ações são extremamente barulhentas, seja pelos comentários da imprensa durante e após os jogos, ou pela comissão técnica e jogadores que são incomodados durante os 90 minutos. Existe a resistência nesse mesmo espaço, mas é óbvio que a repercussão das críticas é bem maior.

Presidente e diretores também sofrem constante pressão pela insatisfação do monstro através da internet. Principalmente porque hoje em dia as "informações" estão ao alcance de todos mais do que antes, mas a imensa maioria se deixa ser influenciado por poucos, frequentemente fazendo uma pressão completamente inconsciente, lutando pelo desejo pessoal de outrem.

Não interessa se é torcedor do GALO. A sua sub-celebridade pode estar falando merda. Inclusive jornalistas e comentaristas. Faça a sua análise. Seja responsável porquê você é o Monstro e tem mais voz a cada dia.

Eu, completamente adverso ao costume da geração atual de ouvir e replicar sem ao menos questionar ou pesquisar, vou sempre na fonte. Ouço um comentário, leio um tweet ou uma resenha atravessada e vou direto pra TV Galo no Youtube, onde quem realmente entende e importa, fala sem cortes, sem edição e sem interpretação parcial dos comentaristas. Faço questão de tirar a minha própria conclusão, justamente por saber que sou Monstro. Faço barulho e não posso pedir coisa errada. Não posso elogiar só por gostar de um profissional, nem atrapalhar porque não vou com a cara de um ou de outro. Se é pra reivindicar, tem que ser com foco no GALO e sabendo dos fatos. Senão, fico na minha só cantando e torcendo na arquibancada. Que é o que eu realmente gosto de fazer!

O ensinamento do Tio Ben é realmente desconfortante quando se vê como um simples torcedor, mas com uma responsabilidade tão grande como é a de apoiar e carregar o Clube Atlético Mineiro no grito. Seja de apoio ou de reivindicação!

Se não tivermos hoje em dia a noção dessa responsabilidade, faremos o GALO voltar para uma situação onde técnicos escalam pelo clamor de quem acha que entende, e abre mão de um planejamento em busca do resultado final, o título, só pra não ficar mal com o Monstro. Da mesma forma, faremos dirigentes contratar e demitir de acordo com as nossas reivindicações, sem elaborar uma meta pra fazer o time campeão, seguindo o que foi planejado ainda que a torcida não entenda inicialmente.

Muitos vão dizer: então a culpa é da torcida? Sim meu caro. Nesse contexto é! Não quer dizer que se a torcida apoiar o GALO vai ganhar tudo. Mas certamente, se a torcida continuar empurrando a diretoria para um trabalho imediatista e desconsiderando o planejamento, sim. Seremos culpados.

Quem conduz o GALO, desde a presidência à base, precisa ser competente e impôr isso. Tem que enfrentar o Monstro, não obedecê-lo. Sabendo que se fizerem a sua parte e mostrarem resultado, no final o Monstro fica manso. Mesmo que seja na proporção do Kalil com um grande título a cada 3 anos de gestão. Tá ruim?

Que Deus livre o Atlético de presidente, diretores, comissão técnica e jogadores que trabalham em função de não serem criticados pela torcida. Pois por definição dos cargos, eles precisam entender mais do a gente né? Eles precisam mandar um "relaxa que eu sei o que eu tô fazendo" e ter peito pra aguentar o mimimi do Monstro imediatista que se ilude com a possibilidade de ganhar tudo e golear todos os adversários. Se não fizerem isso, não precisa deles. Deixa que a gente administra, escala e joga com mais raça e amor, no mínimo.

Se não der certo, beleza. Ninguém vai poder dizer que faltou vontade!