VOU DE CARAVANA – O MENDIGO A CAMINHO DE SÃO PAULO

Por:
25/02/2014 - 02:55

torcida anos 70 - VOU DE CARAVANA - O MENDIGO A CAMINHO DE SÃO PAULO

Imagem: Internet

O ano era 2000 e o Atlético enfrentaria o Palmeiras em São Paulo, pela Copa Mercosul. Foram disponibilizados vários ônibus pelo clube e em um deles estavam as torcidas Máfia Atleticana, Dragões da FAO, Galo Prates e Galo Metal.

Por ser gratuito, apesar do ônibus velho, com motor ao lado do motorista e sem banheiro, ninguém reclamou. Todos entraram e uma poltrona ficou vazia até baterem na porta pedindo para ocupar o lugar e acompanhar os Atleticanos até Sampa. Um mendigo com o corpo coberto por um cobertor cinza recebeu o ‘não’ unânime de todos os passageiros. Bastou abrir o cobertor e mostrar a camisa velha, toda furada, mas com o escudo do Atlético no peito para autorizarem sua entrada no busão.

Se soubessem quantas dores de cabeça viriam, talvez teriam tomado outra decisão, mas estavam todos bêbados demais e a presença do morador de rua poderia reforçar o barulho da Massa no Palestra Itália. Nos primeiros minutos, o calçado furado já exalava um odor que alcançava até a última poltrona e retornava ainda mais forte até o motorista.

Após a primeira parada para lanche, o mendigo chamou um dos responsáveis pelo ônibus e pediu ajuda para abrir uma sacola. Sem entender nada, o Atleticano abriu a sacola e percebeu que havia uma panela de pedra cheia de frango com quiabo no chão. Era o ‘rango’ garantido até São Paulo para o morador de rua. Além do chulé, agora havia o cheiro de gordura de frango no cobertor.

Por não haver banheiro, foram várias paradas até São Paulo para que todos pudessem colocar para fora as dezenas de cervejas ingeridas durante a viagem. O único que não descia era o mendigo, preocupado somente em fazer um baseado perfeito com a ajuda de ferramentas do ônibus. Foi preciso segurança reforçada nas panelas de frango com quiabo na última parada antes de São Paulo, mas o mendigo nem passou perto. Todos pagaram a conta e do caixa já era possível vê-lo tentando colocar uma carranca enrolada no cobertor cinza pela janela do ônibus. Sem a permissão para transportar a carranca, ele a devolveu antes de seguirem viagem.

Dos mais de trinta ônibus, aquele foi o último a chegar no Palestra Itália. Ninguém aguentava mais parar, o cheiro, a fita K7 dos Racionais que o mendigo colocou no toca-fitas, entre outros fatores que tornaram a viagem estressante.

O Atlético sofreu uma goleada que o tirou da competição. Todos estavam revoltados, exceto o mendigo, após pular a corda que dividia as torcidas com um sanduba de calabresa na mão.

- Peguei dos manos da Mancha para vingar a derrota. – comemorava o dono do cobertor cinza.

Seria difícil voltar para casa após aquele resultado, pois, além da preocupação pelo fato do motorista não conseguir ficar de olhos abertos, ainda tinha o maluco do sapato furado. O alívio veio quando ele entrou no ônibus, pegou seu cobertor, frango com quiabo, fita dos Racionais e avisou que ficaria em São Paulo. O coração da turma pesou nessa hora e até tentaram convencê-lo a voltar, mas ele já havia recebido a informação sobre o luxo das praças paulistas.

Antes de virarem a esquina, a última visão foi a do cobertor cinza se abrindo e a camisa do Atlético furada com o mendigo gritando – GAAAALOOOOOOO!

Fael Lima

ABRAÇO NAÇÃO!

Twitter | Facebook

Youtube 1 | Google +