O primeiro encontro nunca será esquecido, era domingo e meu pai resolveu finalmente cumprir a promessa de meses atrás, e me levar ao saudoso Mineirão. A simples sensação de vestir o manto era capaz de me tornar um super-herói, era como se aquele escudo fosse capaz de congelar, de petrificar, ou de teletransportar, na verdade isso acontecia mesmo, já que na hora em que estava trajando o manto, toda tristeza, e angustia que eu sentia se findava.
Em campo havia uma legião de mitos, cada um ali exercia um poder de hipnose sobre os indivíduos na arquibancada, não havia quem ousasse conversar ou brigar.
O tempo passou e eu aprendi a amar e a respeitar o Clube Atlético Mineiro, aprendi a idolatrar as cores, o símbolo, a história, aprendi também que o amor somente não basta para sustentar uma relação, e que a separação, mesmo quando ainda existe amor, é inevitável quando não há cumplicidade.
Não há amor no mundo que resista há tanta ingratidão, há tanta desilusão, há tanta esperança falida... Lembro-me de ouvir meu pai dizer "O amor não enche barriga" e hoje acredito que também não encha a alma. Com o tempo, o sentimento não correspondido cansa, a falta de explicações cansa, a dor cansa.
Não venham me falar medidas, nem tão poucos se atrevam a usar frases feitas, meu amor é sem tamanho, mas não é cego como dizem por aí, ele está vendo o quanto estão desorando o teu nome, o quanto estamos sendo chacoteados. Quem dera, pudesse eu com toda minha paixão, fazer mais do que rezar, mais do que promessas, mais do que lamentar... Quisera eu,fazer com que eles entendessem o tamanho da importância que tem em milhares de vidas, mas não posso.
Meu coração está com medo, medo de não resistir a mais um golpe, medo de a esperança que eu ainda carrego comigo não ser o suficiente, medo de transformar o meu amor em simpatia. A tristeza que sinto em ver o meu irmão de sangue jogar a toalha, é a mesma que sinto ao escutar irmãos atleticanos dizerem que querem nutrir pelo Galo um sentimento de raiva, para assim deixar de sofrer.
Eu ainda mantenho a chama da vela acesa, ainda acredito que no final prevalecerá a vergonha na cara, e a lágrima que vier, virá acompanhada de um grito de alívio preso há anos. Ainda quero reencontrar o super-herói que eu acreditava vestir preto e branco.
Vou rezar para o meu santo, mas não sei se vai resolver, pois assim como meu coração, meu santo tá cansado...
"Vamo que vamo Galo!"
Fotos: Moacir Gaspar, do Blog "Somos Galoucura"
