Algemaram a arquibancada

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28/11/2011 - 05:33

B4 300x225 - Algemaram a arquibancada

Todas as palavras ditas aqui são de responsabilidade minha, Rafael Lima, sem ligação alguma com a Torcida Força Jovem Atleticana, citada nas linhas abaixo. O texto de hoje é de um filho de militar reformado, que passou em dois concursos da polícia militar entre os primeiros do estado. Sempre acostumado a ser minoria em discussões por defender a Polícia Militar e dizer que Bombeiro é a profissão que ainda me faz confiar no ser humano. Tudo isso caiu por terra no dia 27 de novembro de 2011.

Em 2011 vi policial agredir torcedor que simplesmente atravessava uma estrada, vi policial abusar da autoridade e usar spray de pimenta no olho de um homem que estava de costas, assim como diversas cenas que poderia passar horas narrando um total descontrole. Cada imagem foi formando um quebra-cabeça em minha cabeça e vi nesse domingo que a polícia não quer o cidadão do bem, que siga as leis, que contribua com todas as normas que a mesma Pm impõe.

A torcida Força Jovem Atleticana, que não possui uma única ocorrência policial em 21 anos, está se reerguendo e várias pessoas estão trabalhando pesado para mostrar ao mundo que é possível torcer com toda a essência de amar um clube na arquibancada, sem violência, sem qualquer interesse externo, focando somente o Clube Atlético Mineiro. Em todas as partidas é passada uma relação de faixas e bandeiras com seus respectivos responsáveis, contendo nome e informações pessoais. As várias cópias são distribuídas aos policiais, que algumas vezes chegaram atrasados ao estádio e encontraram a torcida com tudo pronto para adiantar o trabalho dos mesmos.

Como as torcidas do Atlético estão abandonadas por essa diretoria patética que esqueceu que o clube sobrevive através da sua torcida, mas não possui nenhum planejamento específico, ignora o que todos pensam e só lembram da turma do ingresso em momentos de crise, a Força Jovem resolveu caminhar com as próprias pernas. Confio que ainda verei alguém sentado na cadeira dessa presidência que assine o compromisso de estar sempre ao lado do atleticano, ao contrário do que foi o senhor Alexandre Kalil. Ignoremos os que ignoram a torcida e focaremos aqui no ocorrido deste domingo.

Durante 3 jogos tentamos entrar com pisca-pisca, algo parecido com sinalizador, mas queimagem 300x250 - Algemaram a arquibancada não oferece risco nos estádios. Entre mil e uma desculpas e enrolações, encerramos o último jogo como mandantes sem conseguirmos, já que o ideal é seguir o que diz a lei. Poderíamos fazer como a torcida cruzeirense, contra o Inter, que entrou com os mesmos dentro de sapatos e bandeiras, ou como a Gaviões, que é tratada de forma incomparável em Minas, usando sinalizadores durante todo o jogo, sem que ninguém lhes incomode, mas ser certinho no Brasil parece que realmente não agrada a todos.

A cada jogo acrescentavam uma obrigação que era cumprida. Ao ver que estava tudo certo, um novo “não” vinha e mais uma vez os fogos ficavam na porta do estádio. Ontem levamos uma lista de 30 pessoas com número de identidade, endereço, telefone, entre outras informações, para que todos soubessem quem iria manusear os pisca-piscas. Todos deveriam ser entregues queimados aos Bombeiros, ficando a certeza que não seriam arremessados no gramado e que ninguém agiria de má fé, usando mais que o permitido. A torcida, que estampava a camisa com a frase “Quem torce não briga”, aguardava com ansiedade a liberação. Um troféu pelo trabalhado durante todo o ano, cooperando com todos os profissionais envolvidos. Parece piada, mas não é – “Aos 45 do segundo tempo pode acender tudo” (com aquela cara de quem é dono do mundo) – foi a frase que ouvimos.

Abaixamos nossas cabeças e mais uma vez aceitamos. Aos 30, 33, 36, 38, 40, 44 e 46 minutos do segundo tempo tentamos contato com todos os responsáveis, sem sucesso algum. Acabou o jogo e todos deixaram o estádio. Não sei onde estão os fogos. Alguma viatura os entregaria, mas ela não foi encontrada e ainda não os recebemos de volta.

Sabe o que aconteceria se entrássemos no próximo jogo com os mesmos nos calçados? Sairia em TODAS as capas de jornais de Minas que Torcida Organizada ignora a lei, que são todos marginais, que não merecem nenhuma chance.

O que falta à imprensa é tirar a bunda da cadeira coberta que os protege da chuva e ir de encontro ao torcedor, conferir tudo como realmente acontece, antes de escrever uma única linha na mídia. Lutem também pelo espetáculo extra-campo, pois ele faz parte do arroz com feijão no fim do mês. Futebol não é só milionário de meia e chuteira e muitos de vocês sabem disso, pois já passaram pelas arquibancadas. Se um contra-cheque tampa sua visão, não deixe que ele esconda o caráter, pense duas vezes antes de rotular torcedores, já que você não vivencia o dia a dia dos mesmos.

Sobre a diretoria atleticana.... Essa eu já não sei o que esperar nos próximos 3 anos. Confesso que é de dar inveja os números apresentados por Alexandre Kalil. Nunca vi tantas cifras, assim como nunca vi um muro tão alto que separa a Sede de Lourdes do torcedor. Seu time não caiu, mas sua torcida está de pé, como antes?

Encerro o texto reforçando a descrença que me encontro com os que deveriam trabalhar pela segurança, mas confundem e ficam de braços cruzados. Se não houver festa, posso ficar parado assistindo a tudo. E assim o povo assiste sentado, um futebol morto, uma arquibancada morta, até que um dia o futebol será como o tênis. Um ruído no estádio e o jogo é paralisado.

Por me forçarem a andar fora da lei, entendo a frase que meu pai me disse um dia antes da última fase do concurso que me faria estar do outro lado. “O que farão com sua cabeça lá, é irreversível. A verdade é clara, mas há uma fumaça que tampará seus olhos.”

ABRAÇO NAÇÃO!

Fael Lima

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