No futebol, a culpa não é um objeto de posse. Não é um lote onde, após um tempo em suas mãos, essa passa a te pertencer definitivamente por usucapião. Os culpados não são eternos, pois sempre haverá um novo candidato a carregar a cruz até onde suas pernas suportarem.
E nesse mesmo futebol, eu escolhi torcer por uma fábrica de culpados. Fabricados ou omitidos pela mídia, injustiçados ou carregados pela torcida, mas todos eles peças de um tabuleiro de xadrez onde não há vencedor.
E os culpados foram muitos e passaram por diversas décadas. Não vou citar Ortiz, Wright entre outros, por que não os vi jogar, então citarei somente as cenas que presenciei do início ao fim.
Algumas dessas cenas eu chego a me envergonhar em narrá-las como nas vezes em que Marques, sobrecarregado o ano inteiro, ficava fora de uma final e a perda do título (para alguns) era culpa do Marques, que havia levado o time até ali. E a culpa não tem alvo, não tem família, não tem pai, não tem autor, pois são páginas borradas nas páginas heróicas. Ela cai sobre o ídolo e sobre o garoto que mal saiu dos 18 anos, ela atinge o intocável e deixa marcas no que até então era perfeito.
Ela derrubou presidentes no Atlético, ela vitimou goleiros, ela deu ponto final em jogadores que mal escreveram uma frase, quando a torcida esperava um livro.
E quando faltam zagueiros e técnicos, culpamos coloração do manto de uma Santa, pois religião é o único caminho a ser dinamitado, até então, pela culpa.
E a bola de neve aumenta a cada ano. São 365 dias e 365 novos motivos para acharmos a razão para tanto revés, para acharmos o "sortudo" que levará no dia 31 de dezembro as mihões de culpas que endereçamos durante o ano para diferentes setores. E nessa vitória milionária, quem comemora somos nós, torcedores, pois estamos mais leves e aptos a fabricarmos mais munição para nossa metralhadora.
E agora nos vemos numa situação diferente. Temos vítimas para culpá-los, temos as ações a serem feitas, mas não temos planos futuros para um recomeço. Esse ano, o Atlético conseguiu a fórmula mágica para transformar culpa em decepção.
Então, vocês que vestem essa camisa, vocês que dirigem essa equipe e a planejam, saibam que não iremos culpá-los pelas derrotas, pela tabela e humilhação, pois tudo que nos restou é a frustração.
Culpar a torcida? Não sou louco! Talvez o maior pecado cometido por essa, é alimentar seus sonhos em pessoas falhas, em projetos falhos.
Se disseres que não vais ao estádio, eu te aplaudo, se disseres que estarás sentado ao meu lado no domingo, eu lhe aplaudo com o mesmo entusiasmo. Afinal, que culpa tenho eu em continuar acreditando nessa história do Clube Atlético Mineiro?
ABRAÇO NAÇÃO!
Fael Lima
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