Boleiro do Galo #04 | Elzo, o volante atleticano da Copa de 86!
Por: Camisa Doze
09/07/2020 - 14:44
Com a camisa alvinegra, muitas conquistas e histórias de raça e amor ao Galo. Com a amarelinha no México, em 1986, Elzo foi apontado por Telê Santana como o melhor jogador da seleção naquele mundial
Elzo Aloísio Coelho (59), mais conhecido como Elzo, jogou pelo Atlético entre os anos 1984 e 1987. Pelo clube, foram 140 jogos disputados, 10 gols, conquistou títulos estaduais, amistosos internacionais, além de ter sido convocado por Telê Santana, para disputar a Copa do Mundo de 1986.
Conversamos com ele e batemos um papo sobre a década de 80, campeonatos estaduais, jogos internacionais, Copa do Mundo e muito mais.
Elzo + Galo: Como tudo começou?
A minha chegada ao Atlético foi em 1984. Foi logo no início do ano, quando o Galo fez a minha contratação. Eu jogava pela Inter de Limeira, em São Paulo. Inclusive, estava sendo negociado com o Palmeiras e, acabou que, fizeram minha indicação ao Atlético e assim me contrataram.
Você participou do Torneio de Amsterdam, em 1984. Conte-nos sobre:
Sim. Foi uma competição difícil e chegamos na final do torneio contra o Ajax da Holanda, um time que tinha Van Basten, Gullit, Rijkaard, Koeman... era uma equipe muito forte. Naquela oportunidade nós tivemos alguns problemas durante a competição. Durante a ida à Europa, o nosso treinador, o Procópio Cardoso chegou a dispensar jogadores e manda-los de volta para o Brasil. Com isso, ficamos apenas com 11 atletas com condições de jogo, fomos em 18, três tinham regressado ao Brasil, outros machucaram no primeiro jogo contra o Feyenoord - HOL (vitória do Galo por 3 x 2) e na decisão, tínhamos a conta certinha, os 11.
Eu joguei improvisado de lateral esquerdo e no meio do primeiro tempo nós levamos o primeiro gol, o Oliveira foi expulso e nós ficamos apenas com 10 jogadores em campo. Continuamos e tomamos o segundo gol, assim terminou o primeiro tempo. Foi quando eu tive uma conversa com o Procópio, ele me colocou de volante e passou o Toninho, que era o meio-campista, para lateral esquerda. No segundo tempo, acabamos empatando, 2 a 2. O empate levou o jogo para prorrogação e depois penalidades.
Eu dei um abraço no Procópio e disse: “a gente vai ganhar!”. O João Leite era um grande goleiro e ele falou “eu vou pegar”. Nos pênaltis o João Leite defendeu a última cobrança e o Atlético venceu por 6 a 5. Esse jogo talvez tenha sido um dos maiores do Galo em termos de Europa. Disputamos outros torneios, ganhamos outros, como na Suíça, mas esse em Amsterdam foi muito importante. Inclusive, chegamos no Brasil com festa espetacular no aeroporto de Belo Horizonte. Eu não esqueço da festa que a torcida do Galo fez e isso foi uma coisa que ficou guardado na minha lembrança.
Você ganhou dois campeonatos mineiros pelo Atlético, em 1985 e 1986. Como foi ser campeão estadual pelo Galo?
Uma curiosidade: eu não ganhei apenas os campeonatos de 1985 e 1986. Também ganhei o de 1987. Vou explicar o motivo... disputei o de 85 e 86 e fui vendido ao Benfica depois da Copa do Mundo de 86, mas apresentei ao time de Portugal após ter feito alguns jogos pelo Campeonato Mineiro 1987, então fui campeão também de 87. Foi maravilhoso conquistar esses títulos pelo Atlético
Foram 140 jogos com a camisa do Galo! Se pudesse voltar no tempo para viver novamente os 90 minutos de um jogo, qual seria a partida?
A minha passagem pelo Galo foi muito boa. Cheguei ao clube em 1984, e no ano seguinte já era capitão da equipe. Liderei em 85, 86 e isso é um título pessoal que a gente tem. Ser capitão pelo Atlético é realmente fantástico.
Bom, se pudesse voltar atrás, um jogo que eu gostaria de reviver foi o do título de 85. Por volta dos 10, 15 minutos do segundo tempo, dei uma cabeçada e tive um ferimento muito grande na cabeça. Sai do campo, fui medicado e voltei com uma touca feita de faixa. Como estava sangrando muito, eles deram um ponto na minha cabeça lá mesmo e eu mordendo uma toalha. Retornei ao jogo e acabamos sendo campeões.
Aconteceram muitas coisas naquele jogo, não apenas isso. Por exemplo, eu tive uma febre de quase 40 graus antes do jogo. Dentro do vestiário, faltando cinco minutos para assinar a súmula, entrei debaixo do chuveiro gelado, tomei aquele banho trincando e fui para o jogo. Tive uma sorte que estava chovendo e enfim... ganhamos o título. Então se eu pudesse voltar no tempo em alguma partida do Galo, com certeza seria esse jogo da final do Mineiro de 1985.
Dos 10 gols que você marcou com a camisa do Galo. Qual foi o mais especial?
O gol mais bonito e especial que eu fiz pelo Galo, é um que pouca gente fala, mas é o gol de número 500 do Atlético em Campeonato Brasileiro. Foi um chute muito forte de fora da área, foi um belo gol (lindo, lindo, mas lindo gol mesmo), e esse gol eu guardo comigo, as vezes passa na televisão. Se eu não me engano foi contra o Vitória da Bahia, perdemos de 2 x 1, mas, mesmo assim foi um gol importante para mim.
Graças as suas boas atuações pelo Atlético, você foi convocado para a Copa do Mundo de 1986! Conte-nos um pouco sobre essa Copa:
Quando eu fui convocado pela seleção brasileira para fazer uns amistosos na Europa, foi uma surpresa muito grande. A nível de Minas Gerais, eu já era considerado o melhor jogador do estado em 1984, 85 e 86, vinha de um rendimento muito forte dentro do Atlético Mineiro e, apesar de ficar surpreso, acredito que fiz por merecer essa convocação da seleção.
Era uma época onde era muito difícil jogar pela seleção, porque a concorrência era muito forte, principalmente na minha posição, onde tinha Cerezo, Falção e outros grandes craques do Palmeiras, Flamengo e Cruzeiro. Tinham outros jogadores de alto nível que poderiam estar naquela lista e talvez eu tenha sido premiado por ser de Minas Gerais. O Técnico Telê Santana, que também era mineiro, tinha retornado da Arábia Saudita e recebeu algumas informações das minhas atuações, ele acompanhou alguns jogos e assim eu fui convocado.
Eu sofri muita pressão da imprensa, principalmente do Rio de Janeiro e São Paulo. A imprensa Mineira e Gaúcha eram os únicos que me apoiavam, mas eu respondia dentro do campo. Nos amistosos até brincava com o Cerezo: “Se eu entrar em um jogo, eu nunca mais vou sair”. Foi o que realmente aconteceu, quando tive a minha oportunidade, nunca mais sai e acabei indo para a Copa do Mundo, representando muito bem o futebol mineiro, representando o nosso querido Galo.
Eu não só joguei no Galo, nasci atleticano e minha família é toda atleticana, então isso me ajudava e me motivava. Me lembro quando fui vendido para o Benfica, eu não queria ir para a Europa de jeito nenhum, não queria deixar o Galo, só fui porque minha transferência iria ajudar o Atlético em dois anos de folha de pagamento, então, por esse motivo aceitei ir. Mas, para mim, foi fantástico ter representado o Clube Atlético Mineiro dentro de uma Copa do Mundo, ter representado o futebol mineiro e ter sido considerado, naquela oportunidade, o melhor jogador do Brasil na competição. Inclusive, ganhando o prêmio de jogador e com o melhor preparo físico do mundo.
Qual outra lembrança bacana você tem sobre a época que foi jogador do Galo?
Tenho uma lembrança do Atlético Mineiro, na época nós fazíamos muitas excursões pela Europa e fizemos um jogo em Berlim, na Alemanha, no fim da partida acabei fazendo o gol aos 44 minutos do segundo tempo.
Eu dei um drible de passar o pé por cima da bola, hoje eles chamam de “pedalada”, mas quem inventou a pedalada foi eu, a minha pedalada nunca vi um jogador fazer igual. Que é a bola em movimento, não parada, e conseguia driblar. Com isso, fiz a jogada na linha de fundo e acabei fazendo um golaço. Passado um tempo, um ano depois, nós retornamos ao estádio de Berlim e, bem no lugar que eu dei o drible, estourou uma bomba nesse lugar.
Pensei: “imagina eu fazendo o drible novamente e estoura uma bomba na hora”. Lembrei do passado da Alemanha, aquelas coisas do Hitler (risos), então essas viagens pela Europa ficaram marcadas.
Qual sua análise sobre o atual Clube Atlético Mineiro?
O futebol mudou muito, né. Atualmente, o Clube Atlético Mineiro é totalmente diferenciado, inclusive nas condições, na parte financeira, na estrutura, isso é uma coisa que facilitou muito para poder jogar um bom futebol. Nós temos uma equipe de qualidade, a gente que é atleticano acompanha as mudanças, sempre vou torcer para o nosso Galo, quero que o Galo vença sempre e torço muito pelo sucesso do Clube.
Eu além de ter sido jogador, fui capitão dessa equipe que para mim é um orgulho muito grande. Em um “mar” que tinha Nelinho, Luisinho, Paulo Isidoro, Éder, Reinaldo, João Leite, Heleno, Sérgio Araújo, Catatau, Paulo Roberto, Jorge Valença, Batista... o próprio Oliveira que era capitão e depois passei a liderar essa equipe, enfim... grandes outros jogadores que lá passaram.
Ter jogado pelo Atlético e ver o rumo que Galo está tomando é muito bom. Contratou um treinador de qualidade, que tem feito um bom trabalho no Brasil, foi bem no Santos, e se ele conseguir implementar o que quer, talvez o Atlético tenha tudo para ser o melhor time do futebol brasileiro, não só dentro de Minas, mas a nível do futebol nacional e, quem sabe, ganhar o tão sonhado segundo título do Campeonato Brasileiro.
Sobre a gestão, atualmente tá muito bem dirigida, Kalil fez um trabalho muito bacana, depois teve altos e baixos, mas as coisas estão melhorando e o Atlético acabou chegando em uma coisa boa, que é o time que tem hoje. Pelo lado de torcedor, estamos juntos torcendo para que o Galo tenha muito sucesso.
Qual recado você gostaria de deixar para a Massa do Galo?
Sobre a torcida do Atlético... hoje vivo como torcedor né, mas não tem torcida mais forte que a do Galo. Eu, além de ser atleticano de coração e de nascimento, pude jogar por esse clube. Acompanho a torcida alvinegra há muitos anos e defino como uma torcida apaixonada. Uma torcida que merece ganhar um título do Brasileirão.
Pelos investimentos do Atlético no ano, na temporada, apesar de estar tudo parado no futebol, principalmente em Minas, o Galo não está parado fora de campo. Está contratando jogadores, contratou um diretor de futebol de alto nível, tem também um presidente que quer ver o clube lá em cima e uma comissão técnica muito forte. Eu tenho orgulho de ver meu clube buscando as coisas para nossa torcida.
Quem vai ganhar com isso, somos nós torcedores, que merecemos. O Atlético merece muito, apesar de ter ganhado o título da Libertadores e outros títulos em outras oportunidades, merece um brasileiro. Principalmente pelo o que é a torcida do Atlético. Gosto muito da torcida do Galo. Como disse, sou atleticano e acompanho o Galo como qualquer outro torcedor. Estou sempre aí, nos eventos da torcida, participando com muito orgulho, porque é um clube que faz a gente se apaixonar e eu sou muito apaixonado pelo Clube Atlético Mineiro. Um abraço!
Confira um dos jogos de Elzo pelo Atlético: