Canto do Leitor – 24 de julho de 2013 – Uma emoção sem tamanho

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25/08/2013 - 19:36

8899 - Canto do Leitor - 24 de julho de 2013 – Uma emoção sem tamanho

Enviado pelo leitor Rafael Lanna

Copa Libertadores 2013, uma emoção a cada jogo, uma explosão de sentimentos que não conseguimos descrever. Finalmente todo aquele tempo de espera chegou ao fim. O Galo é o Campeão da  América no ano de Dois Mil e Galo.

A ficha parece não cair, e que não caia mesmo. Prefiro continuar vivendo este sonho e me emocionando a cada vídeo, a cada foto, a cada áudio, a cada atleticano que encontro na rua, que veste o manto com um enorme orgulho. Cada atleticano que bate no peito e diz, eu acreditei, eu vivi, eu senti, eu estou libertado, aqui é Galo.

O dia 24/07, para mim guardou enormes emoções. Emoções essas que vão além da razão, além da lógica. Quando a Conmebol anunciou que a grande final seria no dia 24/07, senti um arrepio fora do comum. Desta vez o universo parecia conspirar a favor.

24/07. 2 + 4 + 0 + 7  = 13  e 13 é Galo.

Mas não só isso. 24/07/1988, há exatos 25 anos, eu vivi o momento mais difícil, mais duro, mais triste da minha vida. Meu pai, Sebastião dos Santos, partia deste mundo. Meu pai, o velho Tião, um grande atleticano de arquibancada, de carteirinha, de coração e alma, passaria a acompanhar o Galo em outro plano. O exemplo, o amor, o caráter, o “Atleticanismo” me foi deixado de herança.

25 anos depois, estava eu lá, no dia do jogo mais importante da história do Clube Atlético Mineiro. Acordei (se é que eu dormi) cedo, tentei trabalhar como se fosse um dia comum, mas um sentimento que não sei explicar me tocava a todo instante. Parecia que o Natal chegaria, mas as 22 horas não. Não, eu não trabalhei. Fiquei na empresa o dia inteiro lendo sobre o Galo, assistindo vídeos, fotos, materiais diversos, e com uma vontade imensa de chorar, o dia todo. Acho que nestes 25 anos, nunca senti a presença tão forte do velho Tião. O que me incomodava muito era o fato de ele não estar aqui para viver essa alegria que eu tinha certeza que viria no fim do dia. Como, o responsável por eu ser atleticano, a pessoa que me ensinou a amar o CAM não estaria aqui para ver a maior conquista do clube de coração?

Finalmente é chegada a hora de ir embora do trabalho, e meu chefe que torce pelo time rival foi até compreensivo, me liberando mais cedo para eu poder ir ao jogo. Vou em casa, escolho uma camisa  do Galo para ir à final (quem coleciona camisas do Galo sabe como é difícil eleger uma para um jogo importante), visto uma bermuda da sorte, e o cachecol da sorte também e vejo a carteirinha de sócio-torcedor do meu pai, do ano de 1967. Não tive dúvida, Pai, você vai comigo para a final da Libertadores. Coloquei cuidadosamente a carteirinha no bolso da bermuda junto a um terço, que também tinha levado para a semifinal.

Mineirão em festa, tudo pronto para o grande título do Galo. Coração a mil e finalmente começa o jogo. Deixei a carteirinha no bolso, e peguei somente o tercinho. Galo jogando bem, atacando, pressionando e nada do gol sair. O tempo era inimigo, jogava contra. Galo tentou uma, duas, três vezes e nada da bola entrar no primeiro tempo. E como eu queria que esse jogo já estivesse 3x0 para nós para só garantirmos no segundo tempo e comemorar este título inédito. Não, não seria tão fácil, e o primeiro tempo chegaria ao fim com um incômodo. Se o Cuca no intervalo já estava mexendo no time, tirando Pierre para a entrada do Rosinei, era hora do Tião entrar em campo também. Rezei para ele e para o Galo durante todo intervalo, e, quando começara o segundo tempo eu segurava na mão esquerda o terço e na direita a carteirinha. Gol, gol, gol. Jô abriu o placar. O Mineirão parecia que ia cair, a torcida, antes apreensiva, agora explodia de alegria e cantava sem parar “Eu Acredito, Eu Acredito”...

Eu não sabia se torcia, se eu gritava ou se eu rezava mais, o tempo ia passando e precisávamos de mais um gol. Uhhh, na trave, goleiro pegou, bateu no zagueiro, no montinho, o vento desviava, e num contra-ataque o atacante Ferreira dribla o Victor e fica com o gol escancarado. É só chutar. E agora? Muita gente não viu, o juiz não viu, mas eu vi. O malandro Tião puxou o braço do Ferreira, que caiu pedindo falta e perdeu a chance mais clara de gol de todo torneio.  Jogo que segue, ainda temos mais 7 minutos para fazermos o segundo gol. E este gol viria, numa boa trama do ataque do Galo, Léo Silva foi puxado na área, o juiz mandou seguir, e ele seguiu. A bola sobrou para Bernard, que cruzou e o próprio Léo Silva levantou-se, ao invés de ficar reclamando, e cabeceou sem chance para o goleiro. Com o Galo é tão sofrido que a bola não balançou a rede, e  nós que estávamos do outro lado do estádio (eu, por exemplo) só vimos todo mundo gritar e entramos na festa também. Era o que precisávamos para levar a decisão para a prorrogação e pênaltis. Tínhamos mais 30 minutos e um jogador a mais.

Prorrogação, foi bom só para cansar os adversários, que fizeram uma marcação do tipo ferrolho e praticamente não passaram do meio campo. O Galo atacava intensamente. Várias chances de gol. Bola na trave, defesas do goleiro, pênalti não marcado e tudo caminhava para a disputa de pênaltis, onde o receio voltava à tona. Será que vamos vencer mais uma disputa de pênaltis? Será que a fatídica história de 77 voltará a assombrar o Mineirão? Nada disso, este time provou que adora quebrar tabus, e com um 4x3 vencemos e conquistamos a Copa Bridgestone Libertadores 2013.

Derramando muitas lágrimas e de joelhos eu só pensava em uma coisa: PAI, OBRIGADO POR SER ATLETICANO, OBRIGADO POR ESTAR AQUI COMIGO, PARABÉNS PAI. NÓS SOMOS CAMPEÕES.