Carta aberta a Victor Leandro Bagy

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28/02/2021 - 15:26

Belo Horizonte, 28 de Fevereiro de 2021

Querido Victor, obrigado! Eu não poderia começar essa carta de outra forma a não ser agradecendo por tudo que você fez por nós.  

Quem diria que aquela twittada do Alexandre Kalil, no dia 29 de junho de 2012, mudaria para sempre a nossa história. E quando eu digo nossa - é a nossa mesmo, a sua, a do Galo e a da torcida. Com o Manto você disputou uma Copa do Mundo, o Atlético voltou a ter um goleiro pra cantar como o melhor do Brasil e a torcida teve um representante da Massa dentro de campo. Que sintonia, meu amigo! 

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São Victor do Horto, no Mineirão - Thomás Santos

Ah Victão, por que não ganhamos aquele Brasileiro em 2012? A conexão time-torcida tava perfeita. Eu frequento estádios desde 99, sempre ao lado do meu pai e, de todos esses anos, eu afirmo com certeza, foi um dos campeonatos brasileiros mais gostosos de acompanhar. Ali no Horto não tinha conversa, caiu lá tava morto! Era você na meta e Ronaldinho no meio, o resto (com todo respeito) não nos importava. Estávamos lá para assistir vocês dois. Sabíamos que o Bruxo ia dar espetáculo e arrumar um gol pra gente. E lá trás, que segurança! Você não deixaria passar nada. Mas, enfim, você sabe muito bem, que, para o Galo nada é fácil. 

E em 2013 veio a sua beatificação. São Victor do Horto! E eu posso afirmar com todas as letras: o atleticano foi ao Paraíso! E ai de quem negar. Longe de mim querer questionar a sua qualidade como goleiro – Heresia, mas Victor, sabia que nós tínhamos certeza que o Riascos marcaria aquele gol? O roteiro era o mesmo de sempre e o discurso já estava ensaiado, “nosso time é superior, mas fomos eliminados por um gol no finalzinho, que Galo fdp”. Eis que acontece o primeiro milagre: a bendita canhota. Eu NUNCA vi um goleiro defender um pênalti e jogar a bola tão pra longe como você fez naquele 31 de maio.

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Defesa que salvou o Galo contra o Tijuana - Reuters/Washington Alves

Todas as angústias alvinegras foram canalizadas para sua perna esquerda que, com um toque celestial, mandou a bola para lateral. LA-TE-RAL. Eu nunca vi isso (e com a nossa camisa você defendeu 20 pênaltis, 12 em jogos eliminatórios)!  E quando todos ainda estavam a comemorar, você, com sua superioridade divina, estava concentrado na partida e questionando a todos o porque não estavam a marcar e se defender. E a torcida? Enlouquecida! Era uma mistura de “VICTOR! VICTOR! VICTOR!” e “PQP, É O MELHOR GOLEIRO DO BRASIL” cantado do fundo da garganta e sem ritmo nenhum, isso não importava. Êxtase total! Atingimos o Nirvana. O Independência mudou da água pro vinho! De um silêncio ensurdecedor, aos gritos de descarrego para expulsar todas energias e espíritos ruins que nos assombravam. O estádio pulsou! Neste dia você escreveu o seu nome na nossa história. O que aconteceu depois na Libertadores foram apenas defesas em disputas de pênaltis - na semifinal e na finalíssima, coisa simples, nada demais (para um Santo).  

E os clássicos? Como é bom lembrar. Sabia que desde 2012 você já disputou 30 partidas contra o rival da B? Vencemos 13 e empatamos 9. Que coisa linda! Sem falar no “Clássicos dos Clássicos” ou “Clássico do Século”, as finais da Copa do Brasil em 2014. Óbvio que ganhamos as duas e a taça foi pra Sede de Lourdes. Graças a você não tomamos nenhum gol e estamos até hoje esperando uma tal quarta-feira que não chega. Outra coisa que eu não esqueço é que você sempre honrou esse escudo que bate do lado esquerdo do peito. Nunca deixou moleque nenhum fazer graça para o nosso lado. Lembra da arrancada que você deu pra peitar um jogador do lado de lá que estava atrapalhando a batida da falta? Hahaha. Como um galo de briga saiu da área e foi para o meio-campo em questão de segundos. No melhor estilo “nesse terreiro quem canta sou eu”. 

Bruno Cantini - Carta aberta a Victor Leandro Bagy
Victor e Léo Silva com a taça do Copa do Brasil 2014 - Bruno Cantini/Atlético

Sua dedicação e identificação com o Clube nos cativaram. Desde o respeito em agradecer por ter o seu nome cantado, até nas comemorações dos nossos gols. A gente reconhece de longe quem é dos nossos. E você, muitas vezes solitários debaixo das traves, corria para os braços da Galoucura para comemorar mais um tento atleticano. É disso que eu tô falando, p#rra! Você faz parte da cachorrada! Opa, perdão por ter me exaltado, São Victor. 

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Victor comemora com a torcida Atleticana - Getty Images

Já estou me despedindo, mas não posso deixar de perguntar, você tem noção de quantos “Victor’s”  nasceram depois de 2013 e quantos ainda estão por vir? Aquela defesa foi motivo de muitas promessas. O esporte, muitas vezes, molda a sociedade e você foi/é agente direto de muitas transformações. Aqui pelo meu bairro eu não canso de ouvir, “ah, não acompanho futebol, só conheço o goleiro do Galo, o Victor”, seja de idoso ou de criança. E falando nos pequenos, você é ídolo de uma geração! Essa turminha que tá vindo aí vai ser muito exigente com goleiro, viu, e a culpa é sua. Daqui 10/20 anos, em qualquer discussão sobre o dono da camisa 1 atleticana, vai ser comum alguém falar “eu vi Victor no gol do Galo, meu fi. Agora esse cara aí que tá vestindo a 1? Sei não, viu...” 

E é isso meu amigo, Victor. Te desejo boa sorte e sucesso em qualquer compromisso da sua vida. Que você seja feliz e continue sendo um homem de milagres, mas, acima de tudo, um ser humano exemplar. Mais uma vez, obrigado por tudo! Agora temos você do lado de cá, parceiro de arquibancada... que honra a nossa!  Forte abraço. Até breve. 

Com carinho, Camisa Doze.