Conheça os movimentos antifascistas criados por atleticanos

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09/06/2020 - 23:21

Descubra o que significa e entenda a importância da luta contra o fascismo

Desde o início do ano vimos crescer as manifestações em apoio ao presidente eleito em 2018, Jair Messias Bolsonaro. Com tochas, faixas em defesa da ditadura e até bandeiras neonazistas, os protestos se espalharam pelo país nesse período de pandemia, mesmo com o crescimento dos casos de covid-19.

Mas, nas duas últimas semanas (começando 31/05), a situação foi um pouco diferente. Torcidas organizadas estufaram o peito e assumiram parte do protagonismo pela democracia e contra o fascismo. E esse agrupamento tem nome: são os antifascistas. Também conhecidos como “antifas”.

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Resistência Alvinegra em uma das manifestações - Cadu Passos

E afinal, o que é fascismo? A Super Interessante da Abril explica de forma literal: “A palavra “fascismo” vem do italiano fascio, que significa ‘feixe’. E percorreu um longo caminho até sua acepção atual.” De forma simples e clara, um artigo no wikipédia complementa, o “fascismo é uma ideologia política ultranacionalista e autoritária caracterizada por poder ditatorial, repressão da oposição por via da força e forte arregimentação da sociedade e da economia”.

Resistentes e Antifas

Batemos um papo com os dois principais movimentos de torcedores atleticanos, o Galo Antifa e o Resistência Alvinegra. Ambos deixaram claro que lutam contra a opressão às minorias (racismo, machismo, homofobia, xenofobia e etc) e defendem os direitos humanos.

O Galo Antifa é um movimento independente, fundado em 2012, formado por torcedores e sem apoio de torcida organizada. Totalmente contra a elitização do futebol, as bandeiras que eles defendem extrapolam os estádios e refletem nos direitos da sociedade. “Lutamos pela democracia. Uma pauta em evidência hoje num Brasil cada vez mais autoritário”, afirmou o representante.

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Galo Antifa no Centro de BH - Arquivo Pessoal

Já o Resistência Alvinegra, fundado em 2019, além de defender as mesmas pautas do Galo Antifa, são um Grêmio Associado e Recreativo e também uma torcida organizada. E o Luís, o representante que conversou com a gente, completou: “Além desse combate de lutas sociais, defendemos também a democratização do futebol. Enfrentamos o dito futebol moderno”.

Para se tornar um membro do Resistência existem alguns requisitos. Acima de tudo, a pessoa não pode ser contrária as bandeiras sociais que o movimento defende. E após o primeiro contato, que podemos chamar de “pré-inscrição”, é realizada uma análise de perfil minuciosa no pretendente. Como o grupo não é uma torcida comum, esse método é necessário para que não exista a entrada de opositores infiltrados para manchar o nome da torcida.

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Resistência Alvinegra em uma das manifestações - Arquivo Pessoal

As atividades dos movimentos não acontecem somente em dias de jogos. Alguns membros são líderes comunitários, voluntários em projetos sociais e acabam que sempre encontram uma oportunidade de mudar a realidade de muitas pessoas. Os grupos são engajados e se envolvem com a ideia e espalham boa ações sem esperar nada em troca.

Tanto o Galo Antifa quanto o Resistência Alvinegra, afirmam que já sofreram opressões por diversos motivos. O Resistência dividiu com a gente que esse foi um motivos para a criação da torcida. O Antifa completa “Infelizmente o futebol ainda é um ambiente machista. Muitos acham que chamar o adversário de “viado” é apenas brincadeira. O ambiente do futebol ainda parece um lugar fora da realidade atual”.

É errando que se aprende

Olhando para o Atlético, eles enxergam que o clube ainda precisa percorrer um longo caminho para se tornar um modelo ideal. “O Galo quando se posiciona é de forma reativa e não proativa. Nas vezes que as ações foram proativas foram devidas a muitas críticas em anos anteriores”, afirmou Luis (RA). E em 2016 tivemos um exemplo prático. O Atlético foi acusado de sexismo após colocar modelos de biquini desfilando com a nova coleção de uniformes. As redes sociais do clube sofreram uma enxurrada de críticas. Nos lançamentos dos anos seguintes o episódio não se repetiu.

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Lançamento da coleção 2016 - GloboPlay

Mas as coisas estão mudando! No início desse ano aconteceu algo chato no Mineirão. Na apresentação do ídolo Diego Tardelli, a atleta do time feminino, Vitória Calhau, passou por uma situação constrangedora. O Galo Doido, mascote do clube, pediu à jogadora, para dar uma ‘voltinha’. Na sequência, ele se afasta e sai esfregando as mãos, uma atitude de objetificação ao corpo da mulher.

O Atlético se posicionou e afastou o funcionário do clube. Dias depois, o profissional, ciente do seu erro, teve a oportunidade de pedir desculpas à jogadora e assim fez. Seguido por uma carta direcionado a Vitória e a todas as mulheres que se sentiram ofendidas.

O Resistência Alvinegra ainda deixa um recado sobre a presença nas manifestações:

“Gostaríamos de registrar que sempre soubemos que sofreríamos represálias, pois a nossa intenção é realmente incomodar, fazer cada um sair do seu lugar comum e refletir. Estamos sofrendo ameaças de membros de outras torcidas que se intitulam de direita e também de advogados com o mesmo viés político. Informamos que não irão nos parar e muito menos nos calar. Estamos indo às ruas, manifestar o nosso direito de cidadão, correndo riscos por conta da pandemia, portanto se nem isso foi capaz de nos manter em casa, não serão eles que conseguirão isso!”

Importante destacar que o Camisa Doze repudia qualquer tipo de ato machista e misógino. Somos movidos pela paixão, mas, acima de tudo, guiados por deveres éticos e sociais.