Galo 2018: qual será o caminho?

Por:
09/01/2018 - 15:52

A grande certeza dos 12 grandes clubes do Brasil é que, quando montam seus elencos e contratam suas comissões técnicas, o fazem para buscar um grande título. É quase unânime, com uma ou outra exceção, vermos os cartolas do G-12 proferirem expressões como “título é obrigação” ou “a montagem do elenco é para ser campeão ao final do ano”. Portanto, fazer uma grande temporada é o grande objetivo de toda diretoria.

26887012289 dd156ed492 o - Galo 2018: qual será o caminho?

Oswaldo de Oliveira terá a difícil missão de comandar um Galo renovado. (Foto: Bruno Cantini/Atlético)

Porém, antes de se decidir onde o clube quer chegar, é vital pensar em COMO os objetivos traçados no começo de um trabalho serão atingidos. E é na palavra em caixa alta que a maioria dos times brasileiros acabam  esbarrando. Vários fatores, como a falta de convicção em uma ideia de jogo e as constantes trocas no comando técnico e no elenco, impedem a continuidade de projetos que pareciam ser promissores.

Exemplos bem-sucedidos seguindo um mesmo modelo de jogo por várias temporadas não faltam. O Corinthians possui um estilo pautado por um forte sistema defensivo, boas transições defensivas e ofensivas com várias triangulações pelos lados desde 2009. Tudo mantido, mesmo com Mano Menezes, Tite e Fábio Carille comandando o time. Outro exemplo a ser seguido é o Grêmio que, com um 4-2-3-1 introduzido em 2014 por Enderson Moreira, foi evoluindo com Roger Machado até chegar ao seu ápice, já sob o comando de Renato Gaúcho, tornando-se um time com forte capacidade de se adaptar a várias situações.

Mas é difícil perceber uma preocupação do último presidente do Atlético, Daniel Nepomuceno, em manter o mesmo modelo de jogo durante seu mandato. O objetivo deste texto é mostrar o prejuízo causado por tais decisões. Vários técnicos passaram pelo Galo nos últimos três anos sem que houvesse alguma espécie de “conexão” entre eles. Era, basicamente, “trocar o pneu com o carro andando”.

2015

O primeiro técnico do triênio do ex-presidente atleticano foi Levir Culpi, mantido após uma excelente temporada anterior. O time tinha uma ideia de jogo baseada em posse de bola, com Rafael Carioca iniciando as jogadas e buscando sempre os lados do campo para chegar ao gol adversário. Tudo com bastante mobilidade, sobretudo por conta das características dinâmicas das principais peças: Pratto, Giovanni Augusto, Dátolo, Luan, Douglas Santos e Marcos Rocha.

14246703806 d34105e0fc o - Galo 2018: qual será o caminho?

Um "cara legal": mesmo dirigindo um elenco curto, Levir Culpi levou o Atlético ao 2° lugar no Brasileirão 2015. (Foto: Bruno Cantini/Atlético)

2016

No entanto, com a saída de Levir e a chegada de Diego Aguirre, o modelo de jogo foi alterado. O uruguaio aposta em equipes fortes defensivamente, bastante compactadas, de alta intensidade e contra-ataques rápidos. Aguirre deu a titularidade a jogadores comprometidos com a marcação, como Junior Urso, Donizete, Patric e Carlos em detrimento de jogadores mais técnicos, como Cazares. Os jogos fora de casa contra o Racing e São Paulo demonstram essa segurança defensiva, com o time sofrendo pouco contra ambos.

sp x galo libertadores - Galo 2018: qual será o caminho?

Compactação e transições em velocidade eram as marcas do "Galo uruguaio". (Foto: Reprodução/Fox Sports)

Após a demissão de Aguirre, quem assumiu foi Marcelo Oliveira. Os times do ex-meia jogam com os homens de frente tendo maior liberdade e menos compromisso defensivo. Assim, em tese, eles têm fôlego para decidir no ataque. Basicamente, é a antítese do modelo de Aguirre: time espaçado na defesa e no ataque, pouco intenso na recuperação após a perda da bola e busca por uma ideia mais ofensiva. Jogadores como Rafael Carioca, Patric e Carlos perderam espaço, enquanto Cazares voltou a ser titular até se lesionar. A troca resultou em sete partidas sem vencer no Brasileiro, fazendo o Atlético perder pontos importantes que custaram caro ao final do campeonato.

Mesmo com um elenco recheado de bons jogadores e o vice na Copa do Brasil, o saldo de 2016 não foi positivo pela ótica do modelo de jogo. A troca de treinador fez atletas como Rafael Carioca se desvalorizarem. Outros, como Erazo, Leandro Donizete e Urso, que tinham a incumbência de marcar, passaram por fases ruins. A defesa terminou a fase de grupos da Libertadores como a segunda melhor do torneio, e com a chegada de Marcelo Oliveira, se tornou uma das mais vazadas no Brasileirão, situação que mostra a falta de planejamento dentro do ano.

2017

Foi a vez de apostar no técnico brasileiro mais promissor do mercado. Roger Machado se adaptou ao elenco do Galo, aplicando seu estilo baseado no jogo de posição, que em linhas gerais trata-se de dominar o adversário através de movimentos coordenados a fim de conseguir superioridade numérica no setor da bola. Porém, é uma forma muito dependente da capacidade de tomada de decisão e inteligência dos jogadores em ocuparem os espaços.

Figuras importantes como Cazares, Elias e Robinho, contudo, tiveram muitas dificuldades na execução de tal proposta, principalmente diante de retrancas no Horto. Era nítida a falta de intensidade do time ao perder a bola e, como o técnico tinha o perde-pressiona como estratégia, consequentemente, o Galo sofria vários gols em contragolpes velozes, outro problema ocasionado pelos erros nas tomadas de decisão

Roger não teve medo de apostar em jovens como Bremer, Gabriel, Alex Silva e Yago. Todos tiveram momentos interessantes e o time parecia ter um norte seguro após seguidas boas atuações, mas uma sequência de resultados desastrosos em casa fez o técnico ser sacado.

32020672752 2d908a7079 o - Galo 2018: qual será o caminho?

Roger Machado, o "estudioso", não contou com a paciência de dirigentes e torcedores. Acabou demitido ainda em julho. (Foto: Bruno Cantini/Atlético)

Através da coletividade imposta por Roger, peças como Cazares e os laterais se destacaram bastante. Outras, como Robinho e Fred, principalmente nos aspectos físicos, sentiram dificuldades. Mesmo com a falta de confiança atrapalhando o fim do trabalho, era possível enxergar um time cujos jogadores sabiam perfeitamente suas funções e atribuições dentro de campo.

Para não romper completamente com as ideias de Roger, o Atlético escolheu Rogério Micale para seu lugar, ainda em julho. O substituto, que passou anos na base do clube, também é adepto do jogo ofensivo. Micale, porém, prefere ver seus atletas trocando de posição a todo momento. Demorou para o time assimilar essa diferença e, ao mesmo tempo, o elenco teve uma queda de confiança importante pela troca de treinador, com Robinho e Fred ocupando o banco em algumas partidas.

Mesmo com um modelo de jogo começando a ser inserido, os problemas na defesa continuaram. Somado a isso, algumas escolhas duvidosas em escalações e substituições fizeram o inexperiente Micale ser demitido. É possível dizer que a troca de Roger por Micale foi a única das cinco feitas por Nepomuceno em que não houve um descarte total das ideias impostas pelo técnico anterior.

Como forma de recuperar a confiança de uma das equipes mais caras do país – e que estava próxima à zona de rebaixamento – a diretoria atleticana apostou no veterano Oswaldo de Oliveira. O técnico armou uma equipe voltada para contra-atacar, com Robinho e Fred mais soltos na frente. Para tal, Cazares foi sacado do time em prol da escalação de pontas velozes. Mais uma vez outro jogador de boa técnica e titular quase o ano inteiro foi parar no banco de reservas Opela quebra do modelo de jogo.

A partir daquele momento, o Atlético passou a ter uma equipe mais “humilde”, como definiu Oswaldo. Apesar da obtenção de bons resultados, o Galo dependeu bastante de lampejos individuais, como nos gols de Robinho contra o Cruzeiro, no Mineirão, e nas bolas paradas do venezuelano Otero.

Próximos passos

Em 2016 e 2017 o presidente Nepomuceno colaborou para a ruptura do sistema de jogo atleticano. A equipe passou o ano inteiro sem um ponta rápido e driblador, mesmo possuindo jogadores renomados em várias outras posições. O modelo se alterou por duas vezes e algumas peças, prejudicadas pela falta de uma linha de pensamento a ser seguida, alternaram entre altos e baixos.

Em resumo: o Galo da “Era Nepomuceno” teve várias faces. Primeiro, com Levir Culpi, um time ofensivo; depois, a forte defesa de Aguirre e uma equipe baseada apenas nas individualidades nos meses de Marcelo. Com Roger Machado, grandes jogos se alternaram à momentos de pouca confiança e muita pressão. Por fim, houve Micale, de boas ideias e execução ruim, foi substituído por Oswaldo de Oliveira, cujo foco foi montar um time reativo, que buscou esperar os adversários e contragolpear nos momentos certos.

Foram seis técnicos ao longo de três anos. Em 2018, o primeiro ano da gestão de Sérgio Sette Câmara, o torcedor não sabe o que será do time. Resta a esperança da nova diretoria não repetir velhos erros e conseguir encontrar uma fórmula equilibrada para alcançar as vitórias. Um time reativo, com jogadores dinâmicos e intensos para marcar e contra-atacar - parecido com o Borussia Dortmund dos últimos anos – deveria ser a tônica em um primeiro momento, sobretudo por tratar-se de uma temporada de readequação financeira.