Galo x Olimpia | Loucuras de torcedores por um ingresso da final da Libertadores!
Por: Camisa Doze
24/07/2020 - 16:53
No sétimo aniversário da conquista épica do Atlético, conversamos com sete torcedores do Galo, que não mediram esforços para garantir o ingresso da decisão de 2013!
Qual loucura você cometeria para ir à final da Libertadores do seu time do coração? Acompanhe o relato de sete torcedores do Galo, que foram naquela final histórica do dia 24 de julho de 2013:
1 | ERA UMA VEZ UM VIDEOGAME:
Jogar videogame sempre foi um dos principais hobbies de Philipe Fernandes (28), um torcedor que desde criança, está acostumado a acompanhar o Galo nas arquibancadas dos estádios.
O atleticano, hoje proprietário de uma barbearia, na época vendedor de eletrodomésticos, não tinha condições financeiras para arcar com um ingresso da final da Libertadores. Principalmente, pelo jogo ter sido no final do mês. Na segunda-feira que antecedeu a decisão, dia 22 de julho de 2013, um amigo de Philipe arrumou o contato de um cambista que estava vendendo ingressos pelo valor de R$500,00. Com isso, não restou outra alternativa ao atleticano a não ser... vender o seu videogame. “Jogava aquele Xbox 360 religiosamente todos os dias, mas era o único bem material que eu tinha”, contou Philipe.
No mesmo dia, o jovem anunciou o seu videogame por um preço bem abaixo do que havia comprado. Com isso, conseguiu vendê-lo pelo valor de R$ 600,00. Com o dinheiro em mãos, foi até o vendedor dos ingressos e garantiu a sua entrada para a finalíssima da competição: “Na semana do primeiro jogo da final, eu não estava conseguindo dormir. Após ter consigo o ingresso, aí que passei em claro mesmo...”
No dia da final, o atleticano disse que passou a manhã assistindo programas esportivos. Depois almoçou, tomou um banho e arrumou-se. Pegou duas camisas, pintou sua cara com tinta preta e branca e saiu do Barreiro com destino ao Mineirão. No caminho ele se recorda de uma senhora muito humilde, que lhe parou e disse as seguintes palavras “espero que você me represente lá, pois eu não tenho condições de ir”.
Já no Mineirão, ele encontrou os amigos e assistiu aquela final épica, que ainda está viva na memória de Philipe. “Foi incrível, eu estava de setor laranja superior e assim... aquele gol do Leonardo Silva foi uma emoção parecida da cura de uma doença, foi um sentimento inexplicável, foi algo monumental na minha vida e não consigo descrever até hoje aquilo”, afirmou.
2 | O “EU ACREDITO” DE UMA ATLETICANA COM FÉ:
Quando o Olimpia venceu o Atlético, por 2 a 0, no primeiro jogo da final da Libertadores. O espírito do “EU ACREDITO” bateu na porta da casa de Solange Lopes (55). Uma atleticana que mora em Brasília, mas que procura de todas as formas ficar próxima do Galo.
Ao ver seu filho caçula, Ítalo (25), em prantos, após aquela derrota, Sol não pensou duas vezes e disse: “você não acredita? Nós somos atleticanos... nós temos que acreditar até o final. Não está nada acabado. Quer saber de uma coisa? Nós vamos para Belo Horizonte e vamos buscar esse título”, relembra a atleticana!
Com isso, Sol elaborou uma “Missão Libertadores”, em busca de ingressos, passagens e acomodações. Sol negociou três ingressos por R$ 1.200, com um cambista de Belo Horizonte. Um para ela, outro para seu filho e o terceiro para o enteado do pai de seu filho, que também é atleticano. Para ter mais segurança, a atleticana enviou o valor para uma amiga de Belo Horizonte, que pegou os ingressos diretamente com o vendedor na capital mineira.
Com os ingressos garantidos, Sol pesquisou por passagens aéreas, porém, não achou com a data que precisava. Com isso, negociou com o seu outro filho, Rômulo (33), que se ofereceu para levar a turma de carro, desde que as despesas fossem pagas. Ingressos comprados e deslocamento confirmado... Sol teria que resolver outro problema, uma alteração na sua escala de trabalho. Problema resolvido com sucesso! #PartiuBH
No dia 24 de julho de 2013, já na capital mineira, a atleticana pegou carona com uma amiga rumo ao Mineirão. Nos arredores do Gigante da Pampulha, a moradora de Brasília passou por um outro perrengue, já que, sua amiga que estava com os ingressos, estava com o celular descarregado, mas por sorte, no meio da multidão, conseguiu pegar os ingressos com ela.
Sobre o jogo, ela relatou que foi sofrimento do início ao fim. “Na hora dos pênaltis, eu não assisti, olhava a reação do meu filho e da torcida para descobrir se tinha sido gol ou não” acrescentou Sol. Com muita felicidade, ela disse que todo esforço foi recompensado: “foi um dia incrível, apesar dos perrengues, encontrei com muitos amigos queridos de BH, matei saudade do meu Galo no dia mais importante de sua história, além de ter feito meu filho feliz” Concluiu.
3 | DORMIU NA “PRAÇA” PENSANDO NELA... A LIBERTADORES:
Quando o Atlético venceu a equipe do Newell's Old Boys (ARG), por 2 a 0 no tempo normal e, posteriormente, o triunfo nos pênaltis por 3 a 2, o torcedor Eber de Almeida (36), não pensou duas vezes: tenho que ir na final! E assim, o torcedor mineiro de Belo Horizonte, que hoje mora nos EUA, começou a sua busca pelo ingresso.
Eber saiu na madrugada do dia 11 de julho de 2013 (quinta-feira), pegou uma barraca na casa de seu primo e foi direto para a sede do Galo, sem ao menos saber quando e por quanto seria vendido o bilhete do jogo mais importante da história do Atlético. O rapaz sentiu na pele como é morar na rua: “na época eu tinha acabado de sair da empresa que trabalhava, então estava com tempo sobrando para ir (risos).” Ele ainda contou com o apoio do primo, “eu tinha um dinheiro para sobreviver na rua, meu primo me ofereceu uma barraca emprestada, peguei um cobertor e fui... foi uma experiência de morador de rua mesmo.” Eber completou explicando a sua rotina, “de dia ficava no sol, em pé e de noite, sentia um frio muito forte. Joguei truco, vi briga, presenciei acidente, algumas pessoas com antecedentes suspeitos, propostas pelo lugar na fila, vi de tudo ali na Olegário Maciel (rua da entrada principal da Sede do Atlético).”
Por se tratar de uma região nobre, Eber relatou alguns percalços que passou durante os dias. “Todo dia a polícia pedia para que a barraca fosse desarmada pela manhã. Para tomar banho, fui alguns dias em uma construção perto da Sede, pagava R$ 6,00 para dar uma molhada no corpo. Banheiro eu usava o do Shopping Diamond Mall e almoçava alí nos lugares próximos”, completou.
Eber contou que encontrou com algumas personalidades do Atlético na época, como o diretor de futebol Eduardo Maluf (que nos deixou em 2017) e a diretora executiva Adriana Branco (hoje na Prefeitura de Belo Horizonte).
O maior susto veio no último dia de fila, quando o Atlético informou que a venda dos ingressos seria no Mineirão e não na Sede do Galo. “Quando eu fiquei sabendo, entrei em desespero, mas graças a Deus eles nos deram uma senha de prioridade na fila do Mineirão, e mesmo assim, passei a última noite dormindo no Gigante da Pampulha. Como eu fui um dos primeiros a comprar, garanti o ingresso do setor superior laranja, pelo valor de R$100,00”, explicou.
Para finalizar, Eber falou: “faria tudo isso novamente, passei por tudo naqueles dias, até pra mim mãe eu tive que mentir, que ficou sabendo do meu paradeiro através de uma matéria que saiu no jornal. Mas confesso... foi único, foi foda ver o Galo campeão da Libertadores.”
4 | O TORCEDOR E OS INGRESSOS FALSOS:
Conversamos com Rodrigo Melgaço (41), que na época, comprou oito ingressos no valor de R$ 250,00. No total, R$ 2.000,00 tirados do seu próprio bolso para garantir o próprio ingresso e de mais sete amigos.
Resultado? Ele descobriu que os ingressos comprados dias antes da final eram falsos. Após ficar sabendo da falsidade das entradas, todos os seus amigos não arcaram com a despesa em conjunto, apenas um de seus primos ficou do seu lado. Mesmo com o prejuízo, Rodrigo foi com seu primo nas intermediações do estádio no dia da grande final. Adivinha com quem ele encontrou? Com o cambista que tinha repassado os tais ingressos falsos. Com isso, Rodrigo e seu primo “cataram” o sujeito até ele devolver a quantia desembolsada. Por sorte, o vendedor estava com a grana dos atleticanos.
Com o dinheiro em mãos, Rodrigo não pensou duas vezes. Comprou o seu ingresso e de seu primo (essas sim, entradas verdadeiras), e pôde assistir à final dentro do Mineirão!
Perguntando se valeu todo o sofrimento, ele respondeu que “tudo isso que eu e meu primo passamos para chegar nessa final, valeu muito a pena. Faria tudo novamente se fosse necessário. Valeu demais, não tinha como dar errado. Estava escrito, eu senti isso. Foi muito bom”, afirmou, Rodrigo.
5 | LARGOU O MAR, PARA VER O GALO JOGAR:
Conversamos com Adam Philipe (32), um atleticano que mora na cidade de São Mateus, no estado do Espirito Santo. Para termos uma noção, de Belo Horizonte até a cidade capixaba, são 587km de distância, cerca de 10h de viagem.
No sábado que antecedeu a final, Adam saiu da sua cidade rumo a Belo Horizonte e assim, chegou por volta de 2h da manhã de domingo na capital mineira. O destino não poderia ser outro... fila do Mineirão!
Chegando lá, o atleticano encontrou com alguns amigos que já estavam lhe aguardando. Segundo ele, a ansiedade para garantir o ingresso era tanta que ele nem conseguiu dormir. Passou a madrugada em claro resenhando com seus amigos sobre o que possivelmente aconteceria no jogo.
No domingo, já no horário do almoço, Adam e seus amigos conseguiram comprar o ingresso de meia entrada do setor Vermelho Inferior, pelo valor de R$250,00. Com o ingresso garantido, Adam retornou para sua cidade, já que tinha compromissos no seu trabalho na segunda e na terça. Sobre essa saga, ele relatou: “a única forma de garantir o meu ingresso era essa, se eu não tivesse sacrificado o meu final de semana, seria impossível ter garantido o meu ingresso”.
Sobre a quarta-feira, dia da final, ele já tinha combinado no trabalho que não iria trabalhar. Assim, na terça à noite, Adam percorreu novamente os 587km de distância para chegar com tranquilidade em Belo Horizonte, dia da final.
Sobre o que ele viveu naquela noite, ele contou: “se eu pudesse voltar novamente naquela noite, faria toda essa loucura de novo. Foi um sentimento de alegria, de realização... porque ter participado dessa final histórica foi espetacular. Se eu não tivesse ido, ficaria muito frustrado. Então foi um sentimento de realização de alegria. Foi único”, afirmou, Adam.
6 | A AVÓ, O INGRESSO FALSO E A BATALHA NA CATRACA:
Tudo começou naquele 20 de julho, o sábado das vendas de ingressos para a final da Libertadores. Matheus Lima (28), perguntou sua avó, se ela teria disponibilidade de enfrentar a fila para comprar um ingresso da decisão, já que idoso, teria uma fila exclusiva no dia seguinte. A avó do torcedor não pensou duas vezes e topou!
No domingo, dia 21 de julho, Matheus buscou sua avó e a conduziu rumo ao Mineirão. Chegando lá, o sentimento de ansiedade tomou conta dos dois pela fila gigantesca formada nos arredores do Gigante da Pampulha. Depois de mais de 07 horas na fila, os dois escutaram a seguinte frase: “esgotaram todos os setores!" Ali, todo aquele sentimento de querer estar presente escorreu pelo ralo.
Na segunda-feira, dia 22, ao chegar no seu trabalho, Matheus conseguiu um ingresso com um conhecido pelo valor de R$300,00. Tudo lindo, ingresso garantido para a final, mas como tudo para atleticano tem que ser sofrido, o pior estava por vir... Na quarta-feira, dia da decisão, Matheus relatou que nem conseguiu trabalhar até chegar a hora de ser liberado pelo seu coordenador. “Não consegui trabalhar, somente pensando na hora de ir para o estádio. Não pensava em outra coisa! Quando deu 14h30, meu coordenador chegou em mim é disse que eu poderia ir para a casa. Ali a minha ansiedade foi maior ainda”, explicou Matheus.
Após isso, o atleticano arrumou e encontrou com um de seus melhores amigos, que sempre o acompanhou ao estádio desde moleque. Na hora de entrar no estádio, o seu amigo passou pela catraca, mas na hora que o Matheus foi entrar, veio o balde de água fria: “amigo, seu ingresso é falso...” disse o responsável pela catraca. Matheus nos contou com dor no coração essa parte: “o meu olho encheu de lágrimas, não acreditava que depois de tudo que aconteceu, chegar no dia e não conseguir estar presente”, lamentou.
Com isso, Matheus e seu amigo começaram a questionar com o funcionário, mas não tinha muito o que fazer. Os responsáveis pediram para seu amigo afastar e Matheus ficou ali, sem saber o que fazer. Porém, o atleticano viu que ele não era o único com esse problema, vários torcedores estavam xingando na fila. Após um tempo, o torcedor observou que vários atleticanos estavam pulando e passando por baixo da catraca. A única alternativa que restou para ele, foi fazer o mesmo. “A única forma que veio na minha cabeça foi passar por baixo da catraca. Entrei na fila novamente e assim fiz. Não me julguem, eu sei que é errado, mas não houve outra alternativa”.
Após ter conseguido entrar, Matheus não segurou a emoção: “quando entrei, não acreditei. Pensei, eu consegui entrar! Fui procurar o meu amigo ali, mas não consegui. Haja vista pela quantidade de pessoas que estavam no laranja superior. Assisti ao jogo sozinho, sofri, mas sofri muito. Mas a recompensa veio ao final com o título da Copa Libertadores de 2013. O choro veio à tona, mesmo depois de passar por tudo isso. Eu consegui entrar e ainda bem que fomos campeões!”
Saindo do estádio, adivinha com quem Matheus encontrou? Com seu amigo, e assim, lhe contou com felicidade a conquista de ter conseguido entrar no estádio e assistir a decisão da Libertadores na arquibancada do Mineirão.
7 | O TORCEDOR OCULTO E SUAS TRÊS VERSÕES:
Um torcedor que pediu que sua identidade não fosse revelada, nos contou a verdadeira confusão que ele arrumou para ir à final, já que, toda sua família, era contra a ida dele no estádio. Assim, ele fez uma versão para cada familiar!
Entenda...
Versão Mãe | Falou para sua mãe, que ele iria assistir ao jogo na casa da namorada dele na época.
Versão Namorada | Para essa namorada (agora ex), ele falou que iria assistir ao jogo na casa do pai dele.
Versão Pai | Para seu pai, ele disse que ficaria em casa e que iria assistir pela televisão.
Perguntado se faria isso novamente, ele respondeu: “paguei R$600,00 no setor Laranja Superior. Peguei o dinheiro da mesada e fiz essa loucura para ir. Não me arrependo, pagaria novamente. A única coisa que eu não repetiria, era essa confusão que eu fiz com os meus familiares”, refletiu.
Confira os melhores momentos da final da Libertadores de 2013: