Neste Dia – De frente e em frente, para ver, viver e vencer
Por: Paulo Henrique
29/04/2017 - 01:45
De frente e em frente, para ver viver e vencer
Eu dou até um sorriso debochado quando penso que problema, hoje em dia, é classificar em segundo na quinta Libertadores seguida. Ou que frustrante é ficar em quarto no Brasileirão, ganhar de 5 a 2 sem jogar bem, vender o Pratto e ficar ‘’só’’ com o Fred e Robinho. Qualquer atleticano ou atleticana com idade suficiente para ter visto o Ronaldinho no Barcelona sabe que o buraco já foi muito mais embaixo.
Há pouco mais de dez anos, quase conseguiram destruir o Galo. Só que, como também estamos cansados de saber, o nosso time é imortal. Alguns meses depois de viver seu momento mais amargo em quase cem anos de história, saímos do fundo do poço na bola, com raça, amor e dignidade, e procurávamos retornar para nosso lugar de direito.
No domingo, 29 de abril de 2007, o Galo voltava a jogar uma final depois de três anos. O jejum de títulos estaduais durava sete, o maior desde a década de 60. E o adversário era justamente o maior rival local, de novo. Se hoje em dia a gente senta na mesa olhando de frente para eles e dá risada, mesmo há dois anos sem receber do eterno freguês, na época a coisa era bem complicada. Cheios de vaidade eles sempre foram, depois de finalmente sair da fila de 32 anos sem ganhar o Brasileirão e diante da nossa inédita desgraça, estavam impossíveis.
Hoje em dia, naquela época… antes, agora, “no meu tempo, agora... se tinha um negócio que me incomodava mais que o oportunismo azul era o pessimismo do nosso lado. A cabeça baixa dos companheiros mais velhos, com quem eu tanto aprendi a gostar do Galo, era o que mais me doía naquela época tenebrosa. Quase nada na minha vida de adolescente era mais legal do que ir ao Mineirão, independente de como o time estivesse. Pensar que dali para frente a gente só seria feliz olhando para trás era a pior das ideias. Eu não aceitava. Via o Grêmio voando na Libertadores, tão pouco tempo depois de ter caído, e pensava, “eu posso sonhar também”.
E aí chegou aquele domingo. Ia ser feriado na terça, eu tinha prova de química segunda. Não estudei nada. Era final. Finalmente. Em 2004 eu estava lá, vi o Luiz Alberto fazer um golaço, mas ficou faltando um. No anterior a gente saiu na semifinal, o Alício, idiota, foi expulso no primeiro tempo e avacalhou tudo. E agora? A gente tinha ganho deles na primeira fase, 3x1, dando olé, mas agora é final. “O Galo não ganha título”, eles disseram. Antes das 15h eu já estava na geral. No escanteio, ao lado do banco do Galo.
“O tal do Araújo dá um trabalho né… tem que marcar ele”. A bola rolou e Araújo era só o nome da farmácia. Só deu Galo. O Peito de Pombo meteu uma na trave, o Éder Luís driblou o goleiro deles e de onde eu tava não dava para ver mais... foi fora. O Danilinho ia abrir o placar se não fosse o zagueiro deles fazer a falta e levar o vermelho. Um massacre, mas faltava o gol. Não é possível que dessa vez não vai dar.
E aí veio o intervalo, a torcida deles em silêncio, para variar, e uma galerinha atleticana, no outro escanteio, com uns trapos e bandeiras tremulantes, cantava “Somos, somos alvineeegros, e apoiaremos, o Galo PARA SEMPRE”. Foram 15 minutos seguidos de cantoria. Eu nunca tinha ouvido essa música no estádio e nunca tinha me emocionado tanto com uma. “É agora, nossa vez de ser feliz chegou”.
E aí precisou de 20 segundos para a explodir em felicidade. Éder Luís, no primeiro lance, 1x0. E o massacre continuava, show em campo, catarse na arquibancada. Lançamento do Tchô, olha o Danilinho livre ali! Tá valendo? Tá! Na minha frente, encobriu o goleiro! Não, pera, chapéu, PQP!
Era muita festa, era inacreditável, mas tinha mais. Pênalti para o Galo! Fim de jogo, "vamo para perto da saída que assim que bater a gente já sai fora e não pega trânsito", determinou o dono da carona. Gol! Vamo embora. Com 3x0 a gente não perde o título, pode gritar “É-CAMPEÃO!”. E assim saí pelo estacionamento. “Opa, saiu gol”, disse um amigo que ouvia no rádio, com a cara tensa, sem entender muito. “Deve ter sido deles, que merda, isso que dá gritar antes da hora”. Não, era gol do Galo! “Diz que foi um gol bizarro, ninguém viu direito” 4x0! A taça é nossa, com goleada.
Não, eu não vi o Gol Do Vanderlei. Nem eu, nem o Fábio. Nem o Willy Gonzer, nem metade do Mineirão. Eu vi um sonho de adolescente começar a virar realidade. Vi naquele dia 29 de abril de 2007 que o Galo ainda ia me fazer muito feliz e que era desde já. Que saídas felizes do estádio, como aquela, seriam muitas. O caminho ainda reservou tropeços. O próprio título naquele ano veio com um sustinho no jogo de volta, mas veio. Assim como veio em 2010, e veio em 2012 e o resto da história todo mundo já conhece. E por isso estaremos sempre lá, de frente e em frente, apoiando o Galo para sempre.
Neste dia - 29 de abril
Se na internet a moda é o Gol Do Vanderlei Todo Dia, o dia certo é justamente hoje. Em 29 de abril de 2007 o Galo goleava o Cruzeiro no primeiro jogo da final do Mineiro e abria caminho para mais um título.
O Galo naquele dia foi: Diego, Coelho, Marcos, Lima, Ricardinho, Rafael Miranda (Germano), Bilu, Marcinho, Danilinho, Éder Luís (Tchô) e Galvão (Vanderlei). Técnico: Levir Culpi.
Gols: Éder Luís aos 20 segundos, Danilinho aos 37, Marcinho aos 43 e Vanderlei aos 44 do segundo tempo.