Isso é ser atleticano

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27/01/2012 - 04:50

homer tog 177x300 - Isso é ser atleticanoMuito já se falou do torcedor do Galo, e muito ainda está por se falar. Tenho hoje 50 anos, mas ainda pequeno, em São João Del-Rei, com meus 4 anos aprendi a gostar de um time que se chamava Atlético. Minha família toda torcia por times cariocas, minha mãe era torcedora do Fluminense, meu irmão gostava do Botafogo, por causa de Garrincha, etc. Ninguém me induziu a ser atleticano. Já com 5 anos, vim com minha mãe passear na casa de meu irmão em Belo Horizonte, e em uma lojinha na avenida Paraná que nem sei o nome, vi uma camisa de malha branca, bem simples, com um escudinho do Galo no peito. Me lembro que fiz pirraça, esperneei, chorei, até que minha mãe comprou a camisa. Virou minha segunda pele.

Me lembro que a camisa acabou logo, mas com ela já em  frangalhos eu teimava em ajudar as missas na Igreja do Carmo em São João Del-rei vestido com o que restava da camisa. Até que um dia essa camisa desapareceu, com absoluta certeza da participação de minha mãe. Não adiantou. Aquele escudinho preto e branco da velha camisa já tinha entranhado no meu coração.

Aprendi que a maioria das pessoas que torcem pelo outro time de Minas, o fazem por raiva dos atleticanos. Isso acontece mesmo. Me lembro que meu irmão se casou com uma moça chamada Mercês, que detestava futebol. Depois de um certo tempo, ele se declarou torcedora de um outro time em Minas, de camisa azul,  sem nenhuma explicação. Aliás, segundo ela, pela raiva que sentia da “doença” dos atleticanos. É isso mesmo.

Não existe explicação para ser atleticano. O Atlético não é um time de futebol para se torcer. É uma religião, um estado de espírito, uma marca que não se apaga. E é por isso que dói ver esse bando de mercenários vestindo nosso manto sagrado. Se eles aprendessem um pouquinho a ter esse amor que temos, eles dariam sangue, comiam grama, mas honrariam nosso manto. Aliás, falo sempre que o Atlético não tem uma camisa. Camisa de time, têm os outros. Nós temos uma segunda pele, uma coisa que se confunde com nossos corpos, nossos músculos, nosso sangue.

Creio que muito da culpa do Galo estar nessa situação, nesse jejum de títulos, é da nossa torcida. Em 2005, no dia em que caímos para a segunda divisão, os jogadores saíram de campo vendo o estádio inteiro cantando o Hino. No ano em que disputamos a segunda divisão, fomos os primeiros em renda e público nas 3 divisões do futebol brasileiro. É essa torcida que carrega o time, e os jogadores precisam respeitar mais esse nome. Lembro de ver Cerezo, Reinaldo, Paulo Isidoro, Ortiz, Getúlio, Vantuir e Dario jogando e dá um vazio enorme ao ver tantos “pernas de pau” usando nosso manto sagrado hoje, sem compromisso, sem amor. O Galo é isso, e quem não sabe o que é amor, não sabe o que é ser atleticano.

LUIZ CARLOS TORTIERE FRAZÃO
Leitor de São João Del Rei 

*Imagem: Rafael Desoti