Nascido em berço azul, com a alma alvinegra

Por:
16/06/2011 - 21:10

casamento do sapo velho e novo 300x225 - Nascido em berço azul, com a alma alvinegra

Talvez o Galo não esteja registrado no DNA do atleticano, como sempre pensamos. Calma! Vou explicar nas próximas linhas o que quero dizer.

Vivo o Galo 7 dias por semana, durante as 24 horas do dia, respirando o que há de melhor no mundo alvinegro. Porém, amigos, conhecidos, parentes, todos repetem a mesma pergunta – “Como você começou a torcer pelo Atlético, tendo um pai azul?”.

Sim! Meu pai é cruzeirense e não havia ninguém em casa para me passar as lições de atleticanismo no berço. Queria ter fotos com roupinha do Galo, bandeira na maternidade e saber que falei “Galo” antes de ‘gugudadá’, mas o assunto “Atlético” sempre foi ignorado pelo meu pai. Até os 9 anos eu acompanhava somente a Seleção Brasileira, tanto que ainda lembro de cabeça a convocação de 94 com nomes e números. Aquele ano seria o último que eu acompanharia a camisa amarela.

Em 1995 eu me mudava de Pingo D’Água para Sericita, duas pequenas cidades do interior de Minas, e ali marcava uma nova data de nascimento em minha vida. Eu já havia assistidosdoze 201x300 - Nascido em berço azul, com a alma alvinegra jogos azuis ao lado do meu pai, mas não me empolgava com times de futebol, até porque via uma torcida parada, sem alegria, mais preocupada em viver cheia de vaidade que com o apoio ao Clube. Enquanto isso, Taffarel, um dos que defendia a camisa amarela que eu acompanhava, desembarcava em Belo Horizonte carregado por milhares de loucos. E o vento começou a me levar para o lado alvinegro da força; o vento e seu filho, Euller, que eu adorava ver jogando.

Na casa de um sargento, amigo da família, quando o Galo jogava, não havia mais leis. Até gritar no ouvido do rival era válido. Enquanto meu vizinho, dono de um comércio, tinha toda a clientela torcendo pro Galo, pois, em caso de vitória, a bebida era por conta dele. Aquilo era como mágica, uma bandeira que mudava vidas, amenizava dores, fabricava sorrisos.

Então resolvi fazer parte da festa um dia e já nos primeiros minutos tive uma sensação que nunca mais deixaria aquele arrepio ao cantar o hino. O pai tentou de tudo, ofereceu camisa, levar ao Mineirão, mas nada mais me tiraria do lado daquele escudo que estava perto de completar 90 anos com as mesmas cores. Ele sabia disso, pois chamava o povo alvinegro de maluco por irem a jogos numa quarta à noite, mesmo com uma tempestade, sem entender o que era torcer contra o vento.

Cheguei a pedir camisas do Galo, livros, mas não ganhava nada. Era aceitar tudo azul ou não tinha nenhum. E eu escolhi não ter nada, pois não queria uma história que mudava de cor e nome de tempos em tempos.

Chegou o fim do ano e assistia a final da Conmebol ao lado do meu avô (flamenguista). Um desastre impensável aconteceu e perdemos o título. Acho que naquele dia quem mais perdeu foi meu pai, pois ele perdeu definitivamente as chances de me levar para o lado azul da lagoa, ao me ver mais apaixonado ainda por um time que saía de uma derrota para nunca mais ser lembrada.

Os anos foram passando e, com o tempo, vieram outras conquistas por território. Consegui uma camisa de treino (não era original), consegui uma revista, um pôster e quando o pai azul viu, estava cercado por um mundo alvinegro. Mudamos para Caratinga e sempre que eu entrava pela porta de casa com uma nova marca do Galo, ele falava algo de canto de boca. Não era palavrão, pois isso eu nunca ouvi da boca dele, então fico a pensar que ele sussurrava “Galooo”. Foi cabelo moicano e vermelho, como uma crista de Galo, foi um braço rasgado por foguete quando saímos da série B, foram dezenas de caronas para ver o time na região, foram centenas de objetos que eram acumulados pelo quarto, esperando a próxima geração da família.

Atualmente, ele ainda me liga, mas sua missão agora é converter sua neta, de 9 anos, que bate com a bandeira em sua cabeça, cantando que “Maria é tudo frouxo”. Pelo quarto da garotinha, ele já sabe que essa é mais uma batalha perdida.

Eu e a Yasmim temos a sorte dessa paixão provavelmente não ser transmitida por DNA, pois talvez não saberíamos o que é prometer vestir essa camisa ‘uma vez até morrer’. Então, acho que o Galo vem marcado na alma e, mesmo que você esteja do outro lado do planeta, sua vida não estará completa, enquanto o mundo não der as voltas necessárias para que você encontre a camisa alvinegra, que trará um novo sentido à vida do fiel atleticano.

Ainda que seu mundo esteja cercado de azul, ainda que o momento alvinegro não seja dos melhores, mesmo se milhares lhe fizerem o convite para atravessar a fronteira, se você nasceu com um coração atleticano saberá que mais vale um dia vivendo com muita raça e amor, que mil anos vivendo cheio de vaidade.

O Galo não está no DNA, ele está acima de qualquer ciência, à procura eterna de uma explicação, mesmo sabendo que a resposta está no simples sorriso de uma criança que nasce em berço azul e ainda assim é capaz de gritar com todas as forças possíveis – ‘GGGAAAAAALLOOOOOOO’

ABRAÇO NAÇÃO!

ABRAÇO PAI!

Fael Lima

www.twitter.com/cam1sado2e

O Cam1sa Do2e está concorrendo ao TOP BLOG e pede seu voto. Entre aí, vote e, se possível, peça aos amigos para votarem também. É a força da Massa na Internet http://www.topblog.com.br/2011/index.php?pg=Busca&c_b=13134056


23052009314 300x225 - Nascido em berço azul, com a alma alvinegra

Yasmim (filha de pai azul) assiste aos jogos do Galo com sua bandeira

natal 038 300x225 - Nascido em berço azul, com a alma alvinegra

Yasmim (sobrinha) apresenta o Galo ao vizinho Gabriel (filho de pai azul)

atlético x paysandu fael lima e fabrício 300x225 - Nascido em berço azul, com a alma alvinegra

Pagando promessa, com crista de Galo, na volta à primeira divisão

76480487 66f079ddcad983b32f3901a98698a5bc.4bacc5bc scaled 300x225 - Nascido em berço azul, com a alma alvinegra

Priminha Maria Eulália é a atleticana da casa.

tpg galo x marias segurando a bandeira 300x225 - Nascido em berço azul, com a alma alvinegra

E apoiaremos o Galo para sempre