TEXTO ENVIADO POR LUCCA SPERANCINI
“Com o Atlético é assim, nunca vamos ser campeões” foi o que eu ouvi do meu pai, num quarto de hotel, ouvindo pela rádio Itatiaia o jogo entre Galo e Tijuana, quando Leonardo Silva derrubou Aguilar dentro da área e Patrício Polic apontou a marca da cal.
Motivos para ser pessimista não faltavam ao meu velho. Nascido em 1972, ele viu o Atlético disputar nada menos do que 13 semifinais de Campeonato Brasileiro, mas nunca levantar o caneco. Viu o título invicto de 1977 escorregar pelos dedos numa disputa de pênaltis em pleno Mineirão. Aprendeu que o futebol não é justo quando José Roberto Wright expulsou cinco jogadores do Galo em 1981, acabando com o sonho de Reinaldo, Éder e João Leite de vencer a Libertadores. Chorou quando o Atlético viajou a Rosário com quatro gols de vantagem e, novamente nos pênaltis, perdeu a decisão da Copa Conmebol 1995. Ele também veria o time de Ronaldinho Gaúcho e Diego Tardelli, que vinha encantando a América na Copa Libertadores, ser desclassificado, novamente num pênalti, aos 48 minutos do segundo tempo.
E veria junto comigo, filho nascido em berço alvinegro. Meu pai havia cultivado a paixão em mim, nas várias vezes que fomos ao Mineirão para ver o Galo jogar na chuva, no sol, às 16h, às 22h, na primeira divisão e na segunda. Vimos Márcio Mexerica, Nilson Sergipano, Tesser e Ataliba em campo defendendo as nossas cores. Eu era atleticano graças a ele, e ali, no quarto de hotel, eu duvidava do time graças a ele, o ouvindo dizer que nunca venceríamos.
Seria mesmo o destino não foi tão cruel com os atleticanos? Seria justo culpar o destino por mais um revés? Eu já estava pensando em uma desculpa, antes mesmo de Riascos partir pra bola. Mas ele partiu, bateu de pé direito, e o Victor defendeu. Não só defendeu, ele isolou de canhota todos os demônios do atleticano, e ali o Galo me ensinou a acreditar.
Me ensinou a acreditar que, após o apagar das luzes, surgiria Guilherme para soltar uma bomba e fazer 2x0 para o Galo. Ensinou a ter fé mesmo quando o centroavante adversário tem o gol livre para marcar e garantir o título da Libertadores. Me ensinou a crer que o Leonardo Silva, o mesmo que cometeu o pênalti contra o Tijuana, subiria no terceiro andar para nos recolocar na briga. Eu também acreditei que, no mesmo gol no qual o time de 1977 perdeu o título de forma invicta, o time de 2013 conquistaria a América em uma disputa de pênaltis. Eu cantei que acreditava quando Guerrero marcou para o Corinthians no final da primeira etapa, nos deixando com pouco tempo para marcar quatro vezes. Eu acreditei que Luan faria a torcida Flamengo, já “classificadasso”, se calar diante da torcida do impossível. Eu acreditei que o Jô, um ano depois, faria o gol do título.
Os problemas do time atual se apequenam diante das tantas situações em que eu e milhares de atleticanos já acreditamos e passamos por cima. O maior desfalque do Galo de hoje não é o Marcos Rocha; é a torcida. Ela que tanto acreditou e viveu situações irreais, hoje vaia.
Você imaginava que o Leonardo Silva, zagueiro que veio do rival e cometeu o pênalti contra o Tijuana, faria o gol do título? Você imaginava que o Galo, em má fase no Brasileirão do ano passado, viveria tantas emoções para sair com o título da Copa do Brasil? Você imaginava que o Edcarlos, talvez umas das contratações mais contestadas da história do Galo, faria aquele gol contra o Corinthians?
O Dátolo ainda pode fazer o gol do título, depois de um cruzamento do Patric em uma jogada do Thiago Ribeiro. Essa jogada pode começar de um desarme do Pedro Botelho ou do Josué. Antes de duvidar, atleticano, acredite. Porque o Atlético me ensinou e te ensinou a acreditar. E mesmo que nada disso aconteça, não ficamos internacionalmente conhecidos como A Massa por vaiar jogadores ou chamar o treinador de burro; mas sim por berrar quando não temos mais voz, cantar o hino após a derrota e acreditar quando parece impossível.