Eu já estava no travesseiro, pronto para dormir e nas orações agradecer por mais um dia vivido. O dia 24 de novembro ficou para trás, o dia 25 de novembro bateu à porta e quando abri, lembranças vieram. Adiei os sonhos e levantei-me para confirmar no calendário. Sim! Era mesmo o dia 25 de novembro de 2010. Há 4 anos atrás, o Atlético fazia seu último jogo na série B do campeonato Brasileiro.
Lembrei-me primeiro do dia 27 de novembro de 2005, da minha caminhada pela cidade de Caratinga, querendo não encontrar ninguém, procurando encontrar algo que não fosse uma televisão, mas como uma hipnose, parei diante de uma e fiquei ali vendo o inevitável acontecer. Voltar para casa foi dos piores momentos da minha vida, pois cada passo era uma lança que atravessava meus pés e em todo o caminho não encontrei nada que desviasse meu pensamento para que os olhos secassem.
E se é do próprio veneno que se extrai o antídoto, foi nesse momento de fraqueza que nasceu a minha força para o ano seguinte. A cena de idosos, adultos e crianças tendo forças para cantar o hino naquele momento, me fez ferver por dentro. Levantei a cabeça, firmei os passos e prometi que após o dia 25 de novembro, nada mais derrubaria um atleticano.
Outros alvinegros viveram momentos idênticos, percebendo que sozinhos não iriam a lugar algum, mas com outros atleticanos voltaríamos a ser ‘Forte e Vingador’. Então, alguém resolver gritar: “Vamos subir Galôôôô” – essa pessoa poderia ter gritado “Eu vou subir”, mas no singular esse grito não iria a lugar algum. No plural, o grito ecoou por um estádio, pela capital, pelas cidades do interior, no Brasil inteiro.
Talvez essa tenha sido nossa força ou quem sabe a força estava com as crianças que queriam torcer pelo Galo Doido que iria subir. Essa foi uma geração privilegiada, pois aprendeu que não há divisão para torcer por esse Atlético; a meninada queria só cantar, mesmo que não soubesse qual time estava do outro lado. Do lado de cá era o Galo e ponto final!
Pode ser que a força tenha se agigantado na loucura tradicional da torcida atleticana que conseguiu ser maior na arquibancada, mesmo em outros estados. Pobre Portuguesa, testemunha dessa loucura no dia 29 de julho, quando viu a torcida cantando até os 50 do segundo tempo e sendo presenteada com um gol milagroso, um gol que só os de corações fortes continuaram vivos para contarem aos filhos e netos que aquilo acontecia. Um gol de presente para esse que vos escreve, já que esse era o dia em que eu completava 21 anos de idade.
Alguns dias depois eu cumpri minha promessa. O Atlético não havia concretizado a volta, mas minha certeza era tanta que pintei o cabelo de vermelho e fiz um moicano para simbolizar a crista do Galo Forte. Na segunda parte da promessa, eu e um amigo fomos de carona, viajando de cidade em cidade, até Belo Horizonte. Como parte da promessa, não podíamos passar por mais de uma cidade, e lhes confesso que foi preciso ser forte para dormir na rodoviária de Ponte Nova, ficar um tempo sem banho ou contar as moedas para comer um tropeiro em Belo Horizonte.
O último jogo do Campeonato ainda me trazia uma surpresa, quando na comemoração um foguete me acertou, causando um buraco em meu braço. Tive forças para participar da carreata, afinal era uma oportunidade única de espalhar sangue alvinegro pela minha cidade. Para fechar o dia memorável, lá estava eu, sozinho novamente, como no dia 27 de novembro de 2005, com o braço enfaixado, cantando pelo hospital e passando a todos que estavam ali, a força que só o atleticano tem.
Não há dados ou registros, mas tenho a certeza que naquele dia, todos saíram curados e fortes daquele hospital, pois aquele era o dia 25 de novembro de 2006. O dia mágico!
ABRAÇO NAÇÃO!
Fael Lima
