O título do Atlético será a cura pro atleticano e uma dor aguda pro futebol brasileiro

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22/11/2021 - 17:36

O brasileiro é uma raça a ser estudada. Isso já até meme mas é importante pensar seriamente, de vez em quando. A gente vive de gambiarra, convive com problemas sérios, aceita vários absurdos e dá jeitinho pra tudo, levando as coisas do jeito que dá sem nos preocuparmos em resolver um problema até que o dente nos mate de dor, até que a infiltração vire mofo, até que o vazamento de óleo vire um motor fundido, até que a conta chegue e o que poderia ser evitado, se torne um prejuízo urgente e inadiável.

E a conta do futebol brasileiro está chegando. Vejam só, o Atlético pode finalmente voltar a ser campeão brasileiro e isso é incômodo. Porquê não trataram isso antes? Como deixaram isso acontecer?

Durante muitos anos os clubes se apoiaram em uma divisão injusta de receitas e os multicampeões do eixo simplesmente comemoravam. Veio título? Registra a festa, faz ranking de quem tem mais títulos quem ultrapassou quem, qual é a torcida feliz do momento... Nunca se preocuparam com o futuro dos clubes e com os que não ganharam por não poderem disputar em igualdade.

Isso já era um problema ha anos, só não incomodava tanto porque no final dava tudo certo.

A partir de quando o GALO se atreveu a ser o primeiro campeão Brasileiro frustrando as expectativas dos organizadores de um "nacional" que até poucos anos antes era um "Rio - São Paulo", nunca mais o GALO conseguiu o título, e pra isso houve erros históricos e escandalosos. Todo atleticano sempre soube que a arbitragem brasileira é péssima, mas os erros tiravam títulos de MG e os distribuíram entre grandes do Rio e São Paulo, por isso quase não repararam os sintomas. Não doía.

Desde que eu me entendo por torcedor de arquibancada, sempre vi o trio de arbitragem ser vaiado ao entrar no gramado minutos antes de o jogo sequer começar. A torcida do GALO já sabia, mas os erros foram convenientes para dar os primeiros títulos do Brasileiro ao São Paulo e depois ao Flamengo, que poderiam ser o segundo e o terceiro títulos do GALO já na primeira década de disputa. A distribuição de títulos que seriam do Atlético continuou nos anos 80, 90 e só não nos tomaram campeonatos nos anos 2000, quando fomos nós mesmos quem não chegamos nem perto de disputá-lo. Em 2012 e 2015, já no formato de pontos corridos onde os roubos são em doses homeopáticas, sem cirurgia, também remediaram mas não trataram, pois tudo terminou conforme o planejado.

E o calendário? Cara, o calendário do futebol brasileiro sempre foi péssimo para os clubes, os jogadores e pro produto futebol. Mas todo ano teve o campeão com Copa do Mundo, Copa América, Copa das Confederações, amistosos da seleção e várias convocações desfalcando os times em fases importantes da temporada. Durante muito tempo os times que disputavam a Libertadores não jogavam a Copa do Brasil e os que chegavam às finais da Libertadores sempre foram obrigados a abrirem mão do brasileiro.

O calendário do futebol nacional sempre foi aquele serviço mal feito que só incomoda quando a gente é prejudicado ou quando dói na gente. Mas estava tudo certo enquanto o campeão não era o Atlético. Dava pra conviver com o incômodo e todo campeão brasileiro até hoje foi reconhecido como tal e com méritos. Tudo ia bem porque terminava bem.

Hoje estamos vendo o resultado de todo esse pouco caso. O Atlético aprendeu a jogar o jogo e voltou a incomodar. Agora com investimento, elenco, planejamento e o VAR. O GALO criou seu anticorpos ou achou um daqueles tratamentos milagrosos com chá que saram tudo, que a mãe da gente aprende com as tias da vizinhança que se encontram no sacolão. Alguma terapia alternativa tipo fazer caminhada que pro meu pai previne tudo, e pra minha esposa, o Bepantol que melhora qualquer coisa. Aquela pinga que você jura que espanta a gripe na hora, sabe?

O GALO deu o seu jeito e sei lá, ficou mais forte e mais vingador. Ou nós aumentamos a nossa imunidade ou o futebol brasileiro foi quem ficou mais vulnerável depois de tanto descuido.

O fato é que o Atlético aprendeu a fazer pressão, constranger os árbitros a pelo menos olhar o VAR, nem que seja após 3 pênaltis claros não marcados sem fazer a consulta ao recurso. O GALO aprendeu que o VAR diminui a taxa de roubos de 100% para apenas 70%, contra nós. E os clubes que nunca haviam sofrido com isso estão assustados. Pra eles o Atlético ser roubado fazia parte da regra. Não doía no eixo, só na gente. O Atlético se preveniu contra o calendário e agora até parece "beneficiado", mas a gente entende o susto. Antes o planejamento nem era uma preocupação.

Já para o futebol brasileiro, o GALO campeão vai ser a dor aguda que faz a pessoa finalmente ir pro médico se cuidar, mudar a dieta, mudar os hábitos, parar de fumar, mudar o calendário, se importar com finanças (nos casos que ainda há salvação), colocar os árbitros pra estudarem as regras e quem sabe, até profissionalizá-los?

O Atlético era um problema controlado mas sofreu uma mutação. Agora pegou todo mundo de surpresa e o futebol brasileiro vai ter que se acostumar com o novo normal. Pode aglomerar? Pode. Pode abraçar e beijar? Pode. Pode andar sem máscara? Pode! Mas já não tem remédio 100% eficaz contra o Atlético. Vamos ter que nos acostumar com a vida após GALO 2021.

Pra nós, o GALO campeão é a cura, mas o eixo seguirá tentando imunizar o futebol brasileiro contra GALO FORTE E VINGADOR!

Foto: Flickr do Atlético/Pedro Souza