Passado, presente e futuro: o Galo na visão de um célebre torcedor

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10/12/2017 - 08:58

Redação e edição: Guilherme Peixoto

“Profissionalmente, devo tudo ao futebol, e o Atlético é especial e fundamental nessa história toda.” É assim que o icônico jornalista Chico Maia resume seu relacionamento com o clube do coração. Íntimo dos microfones desde os 13 anos, ainda em Sete Lagoas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Chico acumula a cobertura de nove Copas do Mundo e cinco Olimpíadas.

Hoje, o jornalista é secretário adjunto de Assuntos Institucionais e Comunicação Social da Prefeitura de BH e homem de confiança do prefeito Alexandre Kalil, além de fazer participações esporádicas no programa "Rádio Vivo", veiculado pela Itatiaia. Antes, manteve uma coluna nos jornais “O Tempo” e “Super Notícia”. Na PBH, ele trabalha ao lado de Adriana Branco, braço-direito do ex-presidente do Atlético.

Como boa parte dos cronistas esportivos, Chico recorreu ao jornalismo após decepções nos gramados. “Tentei jogar no Galo”, conta ele, lembrando de quando, levado por um amigo em comum que tinha com Toninho Cerezo, fez um teste no clube. Aspirante a goleiro, não permaneceu no Atlético. “Eu tinha 1,76m e com menos de 1,80m eles nem deixavam fazer teste. Deixaram porque era o Cerezo, que atendeu o pedido de um amigo dele”, relembra. “Vi os goleiros com quase o dobro da minha altura e percebi que não era a minha praia. Mas quis continuar no futebol e virei repórter esportivo. Eu já trabalhava [com jornalismo] em Sete Lagoas e só me profissionalizei na área”, explica.

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Chico Maia acumula participações em programas de alcance nacional, como o Redação SporTV. (Foto: Reprodução/SporTV)

Ídolos

Reinaldo ou Ronaldinho? O questionamento persegue o atleticano desde a chegada do segundo, em 2012. Diplomático, ele divide os louros da história entre ambos. “Cada um construiu um pedaço. Reinaldo construiu uma parte importante demais e Ronaldinho é a realidade. Outro dia, um vídeo do Ronaldinho com um atleticano rodou o mundo. Onde ele vai, reverencia o Atlético dizendo ‘aqui é Galo!’”, pontua. “A gente vê outros jogadores que passaram pelo futebol mineiro e não dão nem bola. Até os cruzeirenses reclamam do Ronaldo [Fenômeno]. Ele nunca valorizou o Cruzeiro e Belo Horizonte. É como se isso aqui não tivesse existido na vida dele”, enfatiza.

Sem titubear, Chico diz que Victor está acima de João Leite. “Aquele pé esquerdo o colocou indelevelmente na história do Atlético”, sentencia. Quando a comparação é entre Léo Silva e Luizinho, ele também prefere o presente. “Luizinho, assim como o Reinaldo, ajudou a construir um pedaço da história. Mas o Léo Silva é mais representativo. Campeão da Libertadores e zagueiro artilheiro fantástico”, opina ele, que faz questão de destacar que vê o capitão alvinegro com potencial para ser dirigente. “É um cara inteligente, que sabe conversar, esclarecido, de bom senso. Será um grande dirigente. Tomara que fique no Galo por muitos anos.”

“Tenho certeza que o próprio Daniel [Nepomuceno] ficou decepcionado com si mesmo”

A “recaída” do Galo atual

Chico Maia, do alto dos seus 55 anos, viu o Atlético passar por céu, inferno e limbo. Cheia de altos e baixos, a temporada 2017 frustrou as expectativas do torcedor. O jornalista atribui grande parte dos erros à cúpula do clube. “Quem montou o elenco foi a diretoria”, resume. “O elenco foi mal formado. Não se pode ter tantos jogadores veteranos no time. [Houve] comissões técnicas que falharam”, acrescenta.

“O Atlético teve uma recaída. Ficou muito bem acostumado com uma gestão altamente profissional. Kalil assumiu o Atlético e se voltou ao foco principal: pagar dívidas e apostar no futebol. Deu certo”, ressalta. “Daniel [Nepomuceno] tinha os melhores propósitos, é um grande atleticano, só que desviou do caminho que o Kalil deixou. Se ele tivesse seguido fielmente aquilo que encontrou, acredito que a gestão teria sido melhor. Tenho certeza que o próprio Daniel ficou decepcionado com si mesmo”, conclui.

“Acho que o Kalil é o que há de melhor para o Atlético, assim foi com o pai dele. Acredito que um dos filhos dele [João, Luis e Felipe] ainda será presidente. E, seja ele qual for, certamente será um bom presidente”

Sérgio Sette Câmara

Chico ressalta o fato do candidato favorito para comandar Atlético no próximo triênio estar no clube há muitos anos. “Ele é muito ligado ao Kalil, desde quando o Kalil foi comandante do futebol do Atlético. Acredito que ele vá pegar a cartilha que o Kalil deixou no clube. Penso que teremos tempos melhores no Galo de novo”, opina, destacando que Sette Câmara e o atual prefeito de Belo Horizonte mantém uma amizade de longa data.

Mineirão e torcida

Forjado no cimento das arquibancadas do velho Mineirão e fã de um Tropeiro com “zoiudo”, Chico Maia diz perceber mudanças no perfil da torcida do Atlético. “Todas as torcidas mudaram o perfil por causa dessas arenas da Copa do Mundo. São estádios cheios de frescura”, destaca, frisando que, agora, o espectador precisa ficar “confinado” em um espaço. “Esse Mineirão que está aí não é o Mineirão pelo qual eu fui apaixonado. Essa coisa asséptica, toda cheia de ‘não me toques’, esse não é o Mineirão que eu gosto.”

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Chico Maia não esconde de ninguém a admiração que nutre pela família cujo patriarca é Elias Kalil (ao microfone). (Foto: Centro Atleticano de Memória)

“Ganhar do Atlético lá será muito difícil”

É assim que o jornalista resume a Arena MRV, futuro estádio do Atlético, previsto para ser inaugurado em 2019. “O atleticano irá [à arena] se o time estiver mal, só para manter uma média de público parecida à dos grandes europeus.”

“Esse estádio vai ser fantástico não só para o Atlético, mas para o futebol mineiro como um todo”, comenta Chico. “O Atlético sai na frente nessa”, ressalta.

Presidência remunerada e estatuto

“Entendo que, em todo clube, o presidente, assim como a diretoria executiva, tendo metas a cumprir e com resultados a apresentar, deveria ser remunerado”, ele opina, comparando o mandatário de uma equipe a um presidente de multinacional.  O cara larga a vida dele para entrar naquilo. Se ele não tiver uma atividade profissional que ele tenha tempo de se dedicar ao clube, ou ele vai se ferrar na vida, a família vai ser prejudicada, ou o clube não vai conseguir andar, porque ele não vai se dedicar ao clube”, continua.

“Como diz o próprio Alexandre Kalil: ‘nada Resiste ao abandono’. Os piores momentos do Atlético foram quando o clube teve presidentes que não podiam se dedicar a ele. Os que mais deram retorno foram os que mais se dedicaram a ele”, termina.

“Tive o privilégio de cobrir o Galo nas excursões à Europa e nos Torneios de Verão. Viajei muito com o Atlético e as portas foram se abrindo.”

Técnicos e apostilas

“Estudar é sempre bom. Não precisa ser um acadêmico”. Em meio à dualidade que opõe treinadores estudiosos e “boleiros”, Chico Maia propõe um meio-termo. Para exemplificar a necessidade da atualização constante, o cronista cita aquele que considera ser “o maior técnico do futebol brasileiro”: Telê Santana. “O Telê era um estudioso do dia-a-dia do futebol, via até pelada. Já vi o Telê ver pelada próximo à Vila Olímpica, com crianças jogando bola. Ele estudava”, relembra.

“Hoje os treinadores precisam ter curso, sentar em um banco. Todos estão se qualificando, isso é muito importante, mas é muito mais importante saber o futebol na sua essência, conhecer o adversário e estudar o próprio elenco. Isso é fundamental”, pondera. Ele ainda ressalta uma qualidade que julga ser fundamental em um técnico de futebol: a habilidade para lidar com o talento e com os craques.

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Chico Maia recebeu o Camisa Doze na Prefeitura de Belo Horizonte. (Foto: Roberto Marques)

Bônus

Chico tem facetas pouco conhecidas pelo grande público: é formado em Direito, fã dos Beatles e só fez Jornalismo por pressão do Sindicato dos Jornalistas, que, segundo ele, “estava pegando no pé” daqueles que não tinham diploma. Apesar de estar desiludido com a política atual, não esconde a admiração que nutre por Alexandre Kalil.

A simpatia é tamanha que pretende publicar um livro, ainda em fase de produção, sobre os seis anos em que o prefeito, classificado por ele como uma “figura diferente”, dirigiu o Galo. O respeito se estende ao patriarca da família Kalil. Cobrir o Atlético na “era Elias Kalil” foi, de acordo com Chico, um “grande privilégio”.