Ainda lembro do som do apito encerrando o jogo entre Atlético e Ceará. Eu retirava uma faixa do estádio quando aquele eco cortou o silêncio que cobria o estádio. Não havia mais volta. Foi então que me senti rebaixado, caído, sem ideias ou forças que pudessem ajudar ao Galo.
Talvez tenha sido a pior semana do ano. Era a cabeça ficar vazia e o pensamento voltava ao som do apito, aquele gosto de derrota que sufoca a respiração e a sensação de que uma mão aperta seu peito ao imaginar a camisa alvinegra novamente na segunda divisão.
Não me lembro como subi a escada para sair do estádio, mas me recordo que a faixa pesava uma tonelada. Talvez fossem todas as tristezas dos atleticanos, ali depositadas, todas as decepções, e por isso pesava tanto. Confesso que cheguei a pensar em não viver aquele sentimento novamente, pois tristeza não agrada a ninguém.
Uma semana depois e eu passava pelo mesmo portão, dessa vez para Galo e América. Os amigos reunidos e a decisão – Se estávamos em um número 20 vezes menor que o habitual, então cada um teria que cantar por 20. Assim o fizemos, mas novamente a vitória não veio.
Foram duas semanas longe daquele portão, que registrou tantas lágrimas na saída desses jogos, e nesse intervalo o atleticano abriu o guarda-roupa e tirou a camisa doze, imortalizada e que ninguém mais é digno de tocar. Já não era preciso cantar por 20, pois a Massa estava de volta para fazer até o portão arrepiar. Não havia adversário forte o suficiente para firmar as pernas com o canto de milhões de apaixonados, dispostos a tudo para salvarem a bandeira que mais amam. Os que criticavam decisões de dirigentes, a qualidade de jogadores ou ao técnico, abaixaram suas armas e perceberam que haveria a oportunidade de protestarem, mas no momento certo, com o Galo na primeira divisão. E na arquibancada, o que sempre acreditou ficou ao lado do desconfiado, que estava logo abaixo do que vaiou em outras partidas e que aguardava a chegada de outros atleticanos. Rival naquele momento, só os que não vestiam preto e branco.
Ontem eu vi um homem com um legítimo chapéu de palha, outro que sambava numa velocidade que era difícil acompanhar seus movimentos, mesmo com os olhos, e ainda um que respondia minhas perguntas com um fantoche que carregava nas mãos, devidamente trajado com a camisa do Galo e com o boneco fazendo todos os sinais faciais que sofria com o jogo.
Só aí percebi que 364 dias de tristeza não são maiores e nunca irão superar 1 dia na pura e total felicidade atleticana. Esse mundo de personagens, caricaturas, cenas que você irá contar aos seus filhos e eles duvidarão da veracidade, tamanha a loucura.
Peguei a faixa, peguei a bandeira e novamente pesavam uma tonelada. Dessa vez uma tonelada de esperança, de fé, de sorrisos, de alegria, de paixão. O som do apito encerrou a partida, mas dessa vez foi ignorado pelos atleticanos que não queriam passar novamente pelo portão que os separa do Galo.
Percebendo isso, a Charanga começou a caminhar tocando o hino do Galo. Como numa hipnose, as milhares de pessoas acompanharam, dobraram a esquina, desceram o morro e comemoraram mais uma batalha vencida. Prontos para voltarem para aquele território onde arrepiam os portões, pesam as faixas e criam esse universo paralelo de paisagens alvinegras.
Imagens: Fael Lima
ABRAÇO NAÇÃO!
Fael Lima