Retrospectiva C12 | Galo Futebol Masculino

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31/12/2020 - 16:27

Bagunçada desde antes da pandemia, temporada 2020 do Atlético saiu melhor que encomenda, apesar de indefinida e marcada por vexames. Para o novo ano, manter os pilares do atual trabalho é fundamental (podendo ser próspero)

Um ano típico de Atléticos historicamente desorganizados, como era o da passagem de 2019 pra 2020, já era esperado pela Massa do Galo nesta temporada. Com a alegria generalizada que havia contagiado o Brasil recentemente, após a última rodada do Campeonato Brasileiro, pro atleticano, então, um ano sem grandes conquistas ou times competitivos, pra acertar a casa, era inclusive bem aceito. Mas, como tipicamente acontece com qualquer Atlético, novamente o torcedor se viu iludido e decepcionado (com razão), e ainda segue esperançoso (com motivos).

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Enquanto pôde, a Massa fez festa, mas as possibilidades de grandes conquistas ficaram para 2021 (FOTO: Bruno Cantini/Atlético)

Ê, GALO...

Em janeiro, já com o venezuelano Rafael Dudamel como técnico – vindo de um trabalho considerado bom no comando da seleção de seu país, o time alvinegro conheceu caras novas que, ainda hoje, figuram entre as peças mais utilizadas na equipe. O maior destaque é o lateral esquerdo Guilherme Arana, absoluto na posição e um dos jogadores mais regulares do país. Mas o início pouco convincente no Campeonato Mineiro, se observada a disparidade técnica do elenco alvinegro em comparação com as demais equipes do torneio, talvez fosse um presságio do mês seguinte, onde o péssimo planejamento ficaria escancarado.        

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FIASCO: Pouco tempo de trabalho, poucos recursos e pouco futebol. Passagem do técnico venezuelano Rafael Dudamel não deixará saudades entre os torcedores do Galo (FOTO: Bruno Cantini/Atlético)

Novas caras pro ataque trouxeram mais confiança à torcida em fevereiro: o venezuelano Jefferson Savarino e o ídolo Diego Tardelli. O nada bobo goleiro Rafael atravessou a lagoa e chegou ao Galo com status de grande reforço. Em campo, porém, o futebol continuava abaixo das expectativas. Sob a suspeita de insatisfação dos jogadores com a sua “linha dura” (que incluiria práticas disciplinares como o não uso de celulares durante as refeições), o técnico Dudamel não resistiu aos péssimos resultados no campeonato estadual, tampouco às eliminações precoces da Copa Sulamericana, para o Unión-ARG, e principalmente da Copa do Brasil, ainda na segunda fase, após disputa de pênaltis contra o Afogados da Ingazeira, de Pernambuco. Além da demissão do comando técnico, o vexame do Galo na competição nacional, considerado um dos maiores de sua história, resultou ainda nas saídas dos diretores Rui Costa e Marques.

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VEXAME HISTÓRICO: Nos pênaltis, Atlético é eliminado da Copa do Brasil pelo modesto Afogados da Ingazeira-PE, ainda na segunda fase da competição (FOTO: Bruno Cantini/Atlético)

PENSANDO GRANDE

A montanha russa que é o sentimento alvinegro colocou a confiança em dias melhores novamente no alto, com a chegada do técnico Jorge Sampaoli, em março. Em seu primeiro (e até então único, devido à pandemia) contato com a Massa do Galo, o argentino viu, de um camarote do Mineirão, o Atlético vencer o Cruzeiro por 2 a 1, no único clássico mineiro do ano, já que a equipe rival se encontra na Série B do Campeonato Brasileiro e sequer se classificou para a fase final do torneio estadual. A estreia do novo comando veio com uma vitória por 3 a 1, diante do Villa Nova, ainda na primeira fase do Mineiro. Confirmando que almejaria ao menos um time competitivo na temporada, o Atlético oficializou ainda a chegada do vitorioso diretor de futebol Alexandre Mattos. As atividades e os torneios foram paralisados, como medida de combate ao coronavírus, o que deu ao Galo uma oportunidade de se fortalecer dentro e fora de campo.

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COMANDANTE: Inegavelmente um dos melhores treinadores de futebol do planeta, Jorge Sampaoli foi o nome que mudou o patamar do Atlético, em 2020 (FOTO: Pedro Souza/Atlético)

Sem futebol pra atormentar o torcedor, o período entre os meses de abril e julho foi próspero. Como marca e instituição, a força do clube com maior apelo popular de Minas Gerais voltou a ser destaque com o início das obras do futuro novo estádio do Galo e com o sucesso de vendas do “Manto da Massa” – mais de 100 mil peças vendidas em uma semana. Mas sobretudo dentro das quatro linhas, as mudanças de pensamentos e ações que visavam colocar o Atlético em seu devido patamar podem ser ilustradas em dois atos marcantes de junho: a saída do intragável atacante argentino Franco Di Santo, e a chegada de Keno.

Antes do retorno aos gramados, outras contratações confirmaram que a diretoria finalmente passou a pensar grande, como as do jovem atacante Marrony, do zagueiro paraguaio Junior Alonso e do meia equatoriano Alan Franco.  O meia Nathan também foi contratado em definitivo, enquanto o lateral direito Mariano retornou, com enorme expectativa da torcida e da crítica. Em seu ex-clube, o Santos, o novo treinador do Galo buscou o atacante Eduardo Sasha e o goleiro Everson.

(Para saber mais sobre como foi o Galo fora de campo, veja a retrospectiva da gestão, em 2020)

O PRIMEIRO TÍTULO DE SAMPAOLI

A volta do futebol aconteceu no fim de julho, com os últimos jogos da primeira fase do Campeonato Mineiro ainda por jogar. Sem grandes problemas, o Atlético confirmou a obrigação de conquistar o torneio, após duelos contra a Tombense, na fase final. Durante a competição, bons embates foram travados contra o América-MG do técnico Lisca. Mesmo com as diferenças técnicas, a reta final serviu pra mostrar como Jorge Sampaoli pensava a equipe, e foi essencial para a adaptação dos novos jogadores.

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Comissão técnica e jogadores comemoram o 45º título mineiro da história do Galo (FOTO: Bruno Cantini/Atlético)

BRASILEIRÃO

Os reforços e a nova cara do Galo deram um tempero diferenciado ao Campeonato Brasileiro. O Atlético chegava com pinta de “candidato a dar trabalho ao Flamengo”, enquanto outros rivais na briga, incluindo os próprios cariocas, contavam ainda com outras competições. O foco total no Brasileiro passou a ser um trunfo do Galo, que acabou não sendo aproveitado. Pra resumir, o de sempre: vitórias e grandes atuações contra equipes mais fortes, futebol extremamente ofensivo, mas inconstância na hora de liquidar a fatura em jogos considerados mais fáceis.

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EFICIÊNCIA: Principais reforços do ano, lateral-esquerdo Guilherme Arana e o atacante Keno corresponderam a confiança, sendo os mais regulares em 2020. (FOTO: Pedro Souza/Atlético)

Entre os destaques positivos, até o momento, as duas vitórias contra o atual campeão Flamengo, sendo uma goleada por 4 a 0, ilustram o potencial da equipe. Quando ela quer. A virada por 4 a 3, diante do Atlético-GO, fora de casa, ilustra não só a força, como também a importância do talento individual – o duelo teve grande atuação de Keno, principal nome do Atlético na competição. Já a virada sobre o Corinthians, também fora de casa, é um marco da força coletiva do time – na oportunidade, o experiente  atacante chileno Eduardo Vargas fazia sua estreia, enquanto o jovem Marrony saiu do banco para garantir uma vitória inédita no estádio rival.

Por outro lado, o erro tipicamente atleticano está bem representado na derrota diante do Bahia, fora de casa, quando a desordem jogou fora uma vitória que estava nas mãos. Mais recentemente, o confronto direto contra o São Paulo, perdido por 3 a 0, mostrou um Galo covarde e nada condizente com a filosofia que o mesmo vinha defendendo com unhas e dentes, mesmo em outras derrotas. Individualmente, a torcida ainda espera, com paciência, por melhores atuações de alguns jogadores. Um deles é o jovem meia argentino Matías Zaracho, contratado por altas cifras, com etiqueta de craque, mas que ainda não rendeu o esperado.

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ESPERANÇA: Há poucos meses no time e com boas "primeiras atuações", atacante chileno Vargas pode ser o diferencial nas últimas rodadas do Brasileiro (FOTO: Bruno Cantini/Atlético)

Apesar disso tudo, já que bastante foi falado sobre as “máximas” que rondam o Atlético, por que não se apegar aos bagunçados desfechos que corriqueiramente surpreendem o Brasileirão? Atualmente vice, sete pontos atrás do São Paulo, o Galo pode desempenhar um bom papel até o final e, como uma oscilação dos paulistas não seria surpreendente, ainda sonhar.

Mesmo que este título não venha no futuro, o saldo de 2020 é positivo pela forma que o clube inicia o novo ciclo: pensando grande, como já destacado. Mantendo o atual comando técnico e fazendo-se cumprir as promessas de novos investimentos, dá pra sonhar ainda mais na próxima temporada.  A Liberadores pode render fortes emoções, enquanto um time mais maduro e entrosado, sob o comando de Sampaoli, saberá lidar melhor com os erros cometidos na atual edição do Campeonato Brasileiro. Que os deuses do futebol nos abençoem (e os novos dirigentes do Galo não inventem).