Sugiro uma conversa (um alerta importante)

Por:
09/03/2017 - 13:54

Texto: Olavo Leite

Nada nesse mundo resolve mais desavenças do que uma boa conversa. Um papo cabeça, daqueles honestos e abertos. Daqueles que ressuscitam casamentos, encerram brigas históricas e resolvem questões políticas das mais complexas. A relação do Galo com a Copa Libertadores precisa de uma conversa. Agora. Urgente. Antes que seja tarde.

Taça não fala, é verdade, mas tem quem fale por ela. E o recado que precisa ser dado para quem não a conhece tão bem assim é simples: para levantá-la, técnica é um mero detalhe. É preciso coração, sangue e suor. E faltou ao Galo os três ingredientes na estreia na Argentina – o que nos custou um empate com um time infinitamente inferior, mas que transpirou mais.

As falhas no time foram claras e até difíceis de listar (foram muitas!). Houve algumas que não me preocupam. Gabriel estava um pouco nervoso, por exemplo. Mas me conta: quem não estaria em uma estreia na Libertadores com 21 anos? Ou vocês não ficavam com o coração na mão nos primeiros jogos do Jemerson? É normal. Jogador não é robô e sente também. Gabriel é excelente zagueiro e ainda vai evoluir muito – e rir da falha do jogo contra o Godoy Cruz em um futuro muito próximo.

Agora vamos ao que realmente preocupa. Vi um Elias apático, ainda longe do ritmo característico. Vi um Fábio Santos pouco ligado na marcação. Vi um Robinho querendo resolver o jogo com toque bonito e chapéu. Vi um Danilo voltando trotando para a defesa após perder a bola no ataque. Vi um Cazares entrando no jogo completamente desligado, errando passes de três metros. A estes – e a todos que não suaram 113% do que podem -, eu sugiro uma conversa.

Qualquer dia desses, lá no CT, conversem com o Victor sobre o que é ter um pênalti contra aos 48 do segundo tempo – e pegar com a ponta do pé, causando taquicardia (daí pra cima) em todos os atleticanos deste mundo. Conversem com o Leo Silva sobre o que é fazer um gol na final, já nos últimos minutos, e levar uma nação inteira ao delírio. Conversem com o Jô, hoje no Corinthians, sobre como é ser o artilheiro da Libertadores, mesmo não tendo o suprassumo da técnica. Conversem com o Bernard (tá longe, mas até o Whatsapp agora tem conversa de vídeo, então não tem desculpa) sobre o que é cair por não aguentar mais de cãibra em uma final de Libertadores. Conversem com o Luan sobre o que é pedir incessantemente ao treinador para entrar em um jogo em que nada estava dando certo, fazer o gol do empate e ser decisivo em uma classificação.

Roger, converse com o Cuca sobre... aliás, não precisa não. Você já ganhou, sabe do que eu estou falando. Por isso: acorda! Faça todo mundo acordar!

Exemplos não faltam. E estão logo ali, é só conversar, se entender, colocar tudo nos trilhos. Como um casamento. Tem horas que a gente precisa fazer uma força, fazer uma dívida aqui, outra ali, agradar a patroa, assumir uma falha, pedir desculpa. No mundo do futebol não é tão diferente assim. Costumam falar que “quando falta técnica, tem que sobrar raça”. A questão, meus amigos, é que na Libertadores tem que sobrar raça mesmo sobrando técnica. Não importa quantas pedaladas der o Robinho, quantos golaços fizer o Fred, quantos desarmes perfeitos fizer o Elias. Se não tiver coração, a gente não vai a lugar nenhum.

Ah, antes que eu seja mal interpretado, antes que comecem a sugerir que o Galo busque de volta os pernas-de-pau raçudos que passaram por aqui, uma ressalva: a gente gosta sim de técnica. Ronaldinho, um dos maiores da história, nos encantou. Mas só nos encantou porque também deu carrinho, porque também sofreu com a gente, porque gritou “Aqui é Galo, porra!” todas as vezes que deu vontade - e deu vontade várias vezes. A gente gosta de coração.

Obs: Tudo isso é apenas um alerta. O time é excelente e não fica atrás de nenhum outro da Libertadores. Temos treinador, temos reservas, temos confiança. Temos dois estádios – em breve serão três - e uma torcida apaixonada. Precisamos “só” colocar na cabeça que Libertadores não é Estadual nem Copa Ninguém Liga. Precisamos jogar bola com o coração, correr até a exaustão. Para continuar a rima, precisamos dessa combinação para gritar É CAMPEÃO. Amém?

Saudações!