As evoluções táticas do Galo no comando de Thiago Larghi

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24/05/2018 - 22:07

Mesmo com elenco reduzido e bem inferior tecnicamente em comparação com as últimas duas temporadas, Thiago Larghi vem executando um modelo de jogo com rendimento acima do esperado no Galo. E, sim, seu time joga um futebol mais eficiente e agradável de se ver do que quando o clube foi comandado por Roger Machado, Marcelo Oliveira, Diego Aguirre, Oswaldo de Oliveira e Rogério Micale.

Então, detalhamos os principais fatores responsáveis por esse rendimento acima do esperado para um técnico sem experiência no cargo e que transforma as baixas expectativas da torcida no início do ano em sonhos de se conquistar algum caneco em 2018.

Por: Lucas Silva (@LucasSilva1908)

larghi 2 - As evoluções táticas do Galo no comando de Thiago Larghi

Com Thiago Larghi, Galo evolui em nível de jogo e tem momentos promissores / Foto: José Augusto

Modelo de Jogo

Talvez a mais importante característica responsável pelo desempenho do time é a ideia pensada pelo técnico e, claro, sendo bem executada em campo. Os atletas sabem o que fazer em todas as fases do jogo.

Basicamente a ideia ofensiva passa por ter três jogadores pelos lados com características complementares (passe, drible, finalização e infiltração), geralmente com um ponta de bom drible (Otero ou Roger Guedes), um meia mais infiltrador e de bom passe (Gustavo Blanco) e um lateral mais físico capaz de ocupar os espaços no ataque e ter fôlego para recompor com as triangulações ocorrendo de forma natural.

Porém, se o time não conseguir desenvolver a jogada por um lado, a bola é recuada para Adilson buscar passes rasteiros para o outro corredor lateral. Essa jogada demonstra paciência para o time não ser muito vertical e se esgotar fisicamente a fim de recuperar a bola.

Para não ficar dependente das jogadas laterais e se tornar previsível, as opções de passe pelo meio geralmente são criadas pela intensa e importante movimentação de Ricardo Oliveira. Além disso, é o 'Pastor' o responsável por criar profundidade pelo meio “empurrando” os zagueiros rivais com corridas nas suas costas.

Como a ideia é ser ofensivo e ter a posse da bola, então, ao perder a bola o time executa uma pressão com três, quatro ou até cinco jogadores no setor onde a bola está. A ideia é, ao invés de recuar as linhas e se postar defensivamente, manter as linhas adiantadas e tentar roubar a bola já em campo ofensivo. Com marcação dupla ou até tripla no adversário que tem a posse da bola e o restante fechando as linhas de passe ou marcando individualmente os adversário que possam receber a bola, o Atlético busca recuperar a posse o mais rápido possível. E vem dando certo: no Brasileirão, o Galo é o time que mais rouba bolas próximo a área do adversário.

Caso a equipe não consiga recuperar a posse já em campo ofensivo, recua as linhas e marca em um 4-1-4-1 com Adilson na frente dos zagueiros e Ricardo Oliveira isolado na frente.

Com Larghi, Galo tenta sair jogando com passes curtos, sem chutões

Características do elenco

Tecnicamente o elenco do Galo está abaixo pelo menos em relação ao das últimas duas temporadas, mas alguns fatores estão melhores e explicarei a razão.

Primeiramente, o grupo está mais equilibrado em termos de características necessárias ao modelo de jogo. O time do ano passado, por exemplo, não tinha um ponta driblador e incisivo como Roger Guedes, deixando a equipe dependente de um toque de bola muitas das vezes lento e improdutivo. O meio de campo era composto por Elias, Rafael Carioca (Adilson) e Cazares, ou seja, jogadores fracos fisicamente e pouco intensos para uma região extremamente dependente de intensidade e disputas físicas. Com um meio formado por Adilson, Luan/Cazares e Blanco, o alvinegro ganha em vitalidade.

O centroavante da última temporada era Fred, um camisa nove de pouca mobilidade, gerando um contraste com Ricardo Oliveira, atacante móvel capaz de criar espaços e de associar pelos dois lados do campo com facilidade. O gol de Roger Guedes contra o São Paulo é um exemplo de como a movimentação inteligente de Ricardo Oliveira abre o espaço para o “facão” do ponta.

Mobilidade e velocidade total para marcar contra o São Paulo

Intensidade nas ações de jogo

Virou palavra da moda em quase toda análise falar da intensidade. Basicamente, consiste em cada jogador executar suas ações no campo de jogo com a maior eficiência no menor tempo possível. E a melhor maneira de explicar esse conceito é usar o promissor Gustavo Blanco como exemplo.

Cada jogador tem suas tarefas a cumprir e o jovem volante não foge da regra. Suas principais funções são a marcação no meio-campo e, quando o time tem a bola, ocupar os espaços pelo lado direito do ataque se associando com o lateral, o ponta direita e o centroavante. Outra demanda é pressionar o adversário imediatamente após o time perder a bola. E Blanco consegue fazer todas tarefas com muita efetividade, tornando-se participativo e incansável em campo.

No Brasileiro, Gustavo Blanco é o líder de assistências com três passes para gol, juntamente de Marcinho (Botafogo) e Sasha (Santos). É também o segundo com mais desarmes no torneio: 22 em 5 jogos disputados.

Além de ser um conceito essencial para garantir a competitividade de qualquer equipe, um time intenso casa com o DNA do clube. E a sinergia entre time e torcida é essencial para grandes feitos serem alcançados.

Gustavo Blanco é frequentemente o jogador que mais desarma nos jogos do Galo

A importância de Adílson

De renegado por Oswaldo de Oliveira a jogador mais regular do time em 2018. O volante veio no meio da temporada passada e teve bom início com Roger, mas acabou caindo de rendimento em 2017.

Primeiramente é necessário entender quais as características do jogador para entender seu grande rendimento em 2018. Adilson é um volante ideal para uma marcação por zona, ficando perdido quando o técnico peça a ele uma marcação individual, o que explica seu baixo desempenho com Oswaldo de Oliveira. Com Larghi, os jogadores marcam por zona e o volante consegue render melhor pois marca o espaço e não mais o jogador adversário.

adilson1 - As evoluções táticas do Galo no comando de Thiago Larghi

Adilson percebe a infiltração de jogador adversário e corre para impedir do jogador chegar ao gol

adilson2 - As evoluções táticas do Galo no comando de Thiago Larghi

Adilson percebe que Patric sobe a e adversário infiltra, então realiza a cobertura e fecha o espaço nas costas do lateral

Com a bola, Adilson é um conector dos setores do time. Sempre com passes rasteiros, é responsável por receber a bola dos zagueiros e laterais e passá-la aos dois meias a sua frente. Também é ele, juntamente aos zagueiros, o incumbido de alternar os corredores laterais de ataque do time para buscar alguma brecha na defesa rival. Além disso, é notório seu bom desempenho quando os rivais pressionam com mais de um jogador no seu setor a fim de lhe roubar a bola.

O volante é o terceiro jogador do Brasileiro com mais passes certos (347), atrás apenas da badalada dupla de volantes do Grêmio: Arthur (377) e Maicon (532). Além disso, é o jogador com mais interceptações no elenco atleticano.

Adílson e os zagueiros tiveram ótimo aproveitamento nos passes no último clássico