Sempre foi paixão, Tia Célia

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03/10/2017 - 15:00

Escrever crônicas sobre o Galo, suas histórias e personagens sempre foi meu prazer. O Laerte com aquele bonezinho esperando o time no aeroporto, os jogos com o Sempre a levantar seu Galo no ritmo da Charanga, a Tia Terezinha perfilando a meninada na lateral do campo, a Lenir fazendo justiça com as próprias sombrinhas. Dias atrás, quando alcançamos os 260 votos do Conselho para aprovar nosso estádio, minha câmera esbarrou com a Maria Pretinha chorando em um canto e dizendo que um dia queria estar nessa arquibancada.

Foi a alma desse povo Atleticano que me conquistou e me trouxe a certeza de que esse era o lado certo para estar. Por mais que a modernidade tente transformá-lo em um lead frio e seco, o Galo sempre foi e sempre será poesia.

Atualmente não escrevo tanto sobre nosso Galo. Tento entender o motivo, se a tara por metal no topo do pódio me tirou o foco daquela que imortalizou a camisa 12. Dias atrás, cheguei no estádio arrastado, sem vontade de estar ali, fui no modo automático. Ao passar por trás do gol, encontrei a Tia Terezinha abraçada com a Tia Célia e como eu invejei o sorriso no rosto daquela dupla.

Eu cá, preocupado com a tabela e com a má fase dos craques, elas lá, relembrando os milhares de mascotinhos que estiveram em campo, a meninada descendo a favela com as camisas listradas, rumo ao Mineirão, rumo ao batismo do Atleticanismo. Foi com a força desse povo que conseguimos nos levantar após duras quedas. Décadas dedicadas ao clube, da festa à fé ao levar a santinha para a oração dos atletas no vestiário. Tudo isso sem nunca balançar cartão de sócio repetindo que aquilo lhe dava o direito de fazer o que bem quisesse com a instituição. A Tia sempre foi Atleticana, nunca foi acionista.

Hoje resolvi escrever. Acabo de receber a notícia do falecimento da Tia Célia.

Foi das primeiras pessoas que pensei quando conquistamos a Libertadores 2013, queria saber como fora a noite desses heróis Alvinegros. Por sorte, assisti a uma matéria em que o microfone da ESPN a encontrou antes dos pênaltis. O repórter, focado no título, perguntou se o Atlético seria o campeão. A Tia Célia respondeu duas vezes: “Paixão, paixão! ”. Vai ganhar? – Insistiu o repórter. Ela voltou a repetir – PAIXÃO.

Sempre foi paixão, Tia. Às vezes nos esquecemos disso, mas a Tia Célia jamais. Como foi bom lhe ter como professora para ensinar isso a todas as crianças antes que elas ficassem hipnotizadas ao segurar a mão dos ídolos. Nas estradas em caravanas da Galoucura, corrigindo marmanjos e garantindo o rango para matar a larica.

Alguns conseguem entrar para a história do Clube Atlético Mineiro sem calçar chuteiras. Pra poucos, tia Célia. Pra poucos. Seus sobrinhos sentirão saudades.

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