A tradução do gol alvinegro

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15/01/2010 - 09:02

Para muitos não é nada além de uma bola ultrapassando uma marca de cal na grama, pra outros é só um emaranhado de barbante sendo balançado belo objeto redondo, mas para uma nação em especial é o momento em que se justifica toda uma vida.
Gol do Atlético é comemorado até em Vt no rádio, gol do Galo é bom de se ver até nos jogos eletrônicos, gol do Galo acelera o coração como num ultrasssom onde se vê as primeiras imagens de um filho.
Nos dias onde não há gols alvinegros para comemorar, o coração cria um espaço vazio, onde nada é capaz de preenche-lo, há um vazio na voz, um silêncio na alma.
Alguns diriam que dias assim seriam dias acizentados, mas para o atleticano não há beleza maior que um dia acizentado, então eu usaria o termo "dias azulados" para descrever esses dias sem gols.

O Atleticano materializa o Mineirão e seus craques, no futebol de botão, na pelada com os amigos e até com uma bola de meia na sala de casa ele consegue ver a torcida na arquibancada a comemorar o gol que acaba de quebrar uma louça.
A água e os alimentos sustentam o corpo, mas não tem efeito sobre a alma, pois alma é abastecida por emoções capazes de fornecer a ela, a energia para se viver no dia a dia e ansiar pelos dias que virão.
Assim é o Atlético, quando seu gol deixa a alma em estado de êxtase no momento da vibração e já a esperar pelos próximos gols, na certeza de que o próximo será sempre o melhor.
Isso move uma grande engrenagem fazendo com que cada dia seja o melhor da vida do atleticano, fazendo com que ele saiba que se viver amanhã verá o Mineirão cada vez mais lindo naquela cena onde desconhecidos se abraçam, onde você grita palavras que raramente saem da sua boca, quando você tem a certeza que se pular daquela arquibancada, a leveza da sua alma o fará flutuar.
Mas um gol do Galo não trabalha somente a alma, pois a carne citada agora a pouco também se beneficia quando se balança a rede. Você sabe do que falo pois teu corpo arrepiou quando Guilherme bateu no peito e mostrou nossa raça, você se lembra dos seus olhos marejados ao ser testemunha da genialidade de Reinaldo, suas cordas vocais fizeram com que seu grito de apoio a Eder "Bomba" fosse ouvido do outro lado do mundo.

Essa linha da cal trabalha como uma fronteira, onde do lado de cá mora a ansiedade e do lado de lá tudo é alegria. Depois que a bola ultrapassa a fronteira tornam-se iguais o zagueiro que você criticava e o ídolo que você aplaudia, o jovem ainda sem um salário milionário e a estrela de muitos dólares, atrás da fronteira, todos são iguais.
E para comemorar pode gritar, pode tirar a camisa, pode metralhar felicidade, pode deslizar pelo chão ou pode simplesmente ficar parado olhando para o estádio o reverenciando, pois quem sou eu para definir comemoração se eu mesmo sou tomado a cada momento por uma energia diferente.

Gol do Galo é um código para a alegria, é a chave de um sorriso, é fogos nos pés que não ficam no chão, é momento de fé onde você tem a ousadia de pedir aos céus para viver mais 100 anos ou mais cem mil gols, pois gol do Atlético vale como calendário para o Atleticano.
Por exemplo se você nasceu em 1973, você nasceu nos gols de Campos, eu nasci em 1985 então nasci nos gols de Sérgio Araújo, assim como meu avô nasceu nos gols de Mário de Castro.

Poderia descrever ainda em centenas de parágrafos o que é um gol atleticano, porém em mais mil linhas ou dois mil versos eu ainda deixaria de citar um detalhe do que é aquele bandeirão subindo para tampar tantos marmanjos que choram emocionados com esse Clube.
E eu digo que essa lágrima resume essas mil linhas e esses dois mil versos imaginários, pois une a carne, a alma, a emoção e o sonho que citei. A lágrima que corre é a da certeza de que comemorar um gol atleticano é um sentimento de plenitude e de eternidade, tão essencial e tão imortal quanto nosso Clube Atlético Mineiro.

ABRAÇO NAÇÃO!