Um fenômeno cultural chamado Clube Atlético Mineiro. Por Arthur Cabral

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04/11/2021 - 12:25

Esse texto é a transcrição de uma "thread" publicada no Twitter pelo torcedor Arthur Cabral, postada no dia 2 de Novembro de 2021. Siga o Arthur e veja aqui se esse texto te representa e te enche de orgulho!

Se te pedissem pra descrever o sentimento de ser um atleticano, como seria? Paixão? Loucura? Religião? Fato é que torcer pelo Galo virou um patrimônio cultural, um dos maiores espetáculos do futebol nacional. São tempos de exaltar o melhor título desse clube, a sua torcida. Atleticano que é atleticano se acostumou a sonhar pelo impossível, mesmo que isso custasse sofrer pelo injusto, por algo que insistiu em não sair da garganta entalada, que fizesse angustiante, e ainda mais forte, essa paixão masoquista.

O torcedor foi moldado na base do incessante martírio e aprendeu, como poucos, que precisava saber gritar mais alto que os outros, que precisava fazer esse sentimento se tornar irracional. Desde o dia em que nasceu, o atleticano soube que precisava torcer contra o vento. E é dessa frase que a torcida tira a maior das suas lições. Porque todo atleticano sabe que se houver uma camisa branca e preta no varal durante uma tempestade, torceremos contra o vento. A Massa sempre pensa como uma só, torcer pro Atlético significa pertencimento.

O papo que corre em Minas é que pra ser atleticano você tem que ser louco. Como pode essa paixão insaciável por um time que tanto tempo só te trouxe desilusão de novo e de novo e de novo? A gente sabe a resposta. O sofrimento fez o amor pelo Atlético. O torcedor do Galo vive com um incessante sentimento de injustiça que nos cega, em toda a história. Toda a maré de negatividade que já atingiu o time de Lourdes só fez a torcida mais cega de raiva e essa vontade de gritar sempre foi retribuída em campo.

Uma fala do Rica Perrone é marcante e ilustra bem o que acontece dentro de Minas Gerais. O Atlético jogar é um evento na cidade, não importa o que seja:

Falam de títulos, e que falem, mas eles nunca mataram a nossa fome. A torcida do Galo é o que é sem nunca ter precisado de algo pra massagear nosso ego e isso que a torna tão diferente. Atlético é sincero, de verdade, e vale muito mais que qualquer taça já disputada.

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No Campeonato Brasileiro o Atlético tem a terceira maior média de público acumulada da história dentre todos do país. Mesmo com apenas um título, o clube coleciona média de 22.917 pessoas de 1969 até 2019 e só perde pra Flamengo e Corinthians, times de torcidas nacionais.

E que lavem a boca pra falar da Massa. O time mineiro também é o primeiro (depois das duas torcidas nacionais do futebol brasileiro) entre os que mais vezes foram campeões de público em uma edição. O Atlético já registrou o melhor média do campeonato NOVE vezes.

A título de curiosidade, o Corinthians, que é o Corinthians, liderou o brasileiro no quesito somente uma vez a mais (10), mesmo tendo vencido 7 vezes o Brasileirão, o que claramente alavanca as médias de público numa edição. O Flamengo, por outro lado, que venceu oito vezes o Campeonato Brasileiro e consequentemente ganha o boom natural nas arquibancadas com a campanha, venceu 13 vezes a média de público da edição. Vocês conseguem ter noção da dimensão do feito do Galo?

A cultura do futebol brasileiro insiste em se manter inerte para o espetáculo que é a torcida do Clube Atlético Mineiro. Campeão brasileiro uma vez, apenas em 71, o time também liderou os públicos do país em 77, 90, 91, 94, 95, 96, 97, 99 e 2001.

Os feitos se tornam ainda mais gigantes quando se constata o fato óbvio de que a torcida nunca precisou de grandes campanhas para ir ao Mineirão. Ser a número um do país e rivalizar com qualquer outra do Brasil era instintivo, passional. Apesar das finais em 77 e 99, o Galo, líder de bilheterias nos respectivos anos sequer passou das quartas em 90, 96 e 97, semis em 91, 94 e 2001 e nem se classificou para as fases finais em 95. Mesmo assim, campeões ISOLADOS nas arquibancadas. Assusta né?

É a prova maior de não perder seu ideal por mais que as adversidades tentem te calar. A torcida cansou de provar que Galo é amor, não é simpatia. Caímos para a Série B, e no dia do rebaixamento, terminamos o jogo cantando o hino do clube. Fomos para a 2ª divisão pra mais um ano de sofrimento e fizemos história. Esquecidos e humilhadas, os atleticanos, na B, conquistaram a maior média de público do BRASIL em 2006. Nenhum time da A chegou perto dos 31.922 que empurraram o time de volta pra elite naquele ano.

E se não for isso o suficiente, é difícil entender o que possa ser. No único rebaixamento da história do Atlético Mineiro, a torcida, que nunca ousou abandonar o clube, entrou dentro de campo pra reerguer o time. Vamos subir, Galo. Vamos subir, Galo.

O Atlético, que pra muitos é só um time sem expressão, foi para a maior desonra de um time de topo no país, a segundona, e a sua torcida em troca transformou o Galo na maior média de público da história de uma B até hoje. Nada nunca foi capaz de abalar esse sentimento. Nada.

O movimento Atlético Mineiro se torna até difícil de explicar. A Arena MRV, que só deve sair no fim de 2022, já acumula mais de R$160Mi em vendas de ativos para a torcida (cadeiras cativas, camarotes, etc.). Até terra (é sério) do terreno o atleticano quis comprar.

O que falar do próprio Manto da Massa? Um traje feito por torcedores, escolhido por torcedores que simplesmente vende 110 mil camisas em 7 dias (2020) e 120 mil em 7 dias (2021)? É fato que tudo que a torcida toca, vira ouro. Viciada em bater recordes.

Impossível também, falar de torcida sem mencionar o maior plano de sócio torcedor do Brasil. Remodelado e reinaugurado do zero em 2020, o Atlético já buscou o posto de número um do país com mais associados. A contagem ao vivo no site do GNV já mostra quase 84 mil aderentes.
Torcer por um time que te calejou a não esperar por nada significou apoio incondicional. Como eu já disse, o atleticano percebeu cedo demais que pra amar, precisava fazer a garganta sangrar. Quem já presenciou, se assusta né, Eduardo Costa?

O Mineirão em jogo do Galo se transforma, treme junto, grita e chora na mesma intensidade. Em 2021 a Massa, perto de fazer história, conheceu mais um capítulo de um transe coletivo especial que ronda o Gigante da Pampulha quando tem 11 homens alvinegros no gramado.

Um gol contra grotesco com 1 minuto numa partida fundamental seria capaz de matar qualquer tipo de atmosfera, fazer do espetáculo um sofrimento. Mas na torcida do Atlético, o grito (entalado de geração pra geração) resolveu sair ainda mais alto. Nesse dia, teve jogador do Cuiabá que não conseguia escutar nem mesmo a pergunta do repórter a 2 metros de distância dele dentro de campo. Quando falam de atmosfera no futebol nacional, se você deixar essa de fora, provavelmente você está equivocado.

O “Vamos Galo, ganhar o Brasileiro” vem carregado de história, de dor, de sofrimento. O atleticano que canta, canta pela frustração do seu pai, do seu avô. Representamos também milhares que não tiveram a chance de ver o que vimos. Porque eu acredito até o fim, eu acredito no impossível, eu acredito no meu time. Nada seria mais Atlético do que ganhar a competição mais importante de clubes do continente com a torcida como a protagonista. Vocês sabem, nós ganhamos no grito aquela Libertadores da América.

E se caiu no Horto tava morto, foi porque um dia o Brasil e a América perceberam que qualquer um que entrasse naquele caldeirão pra jogar naquela atmosfera sairia derrotado. O Atlético ficou quase 2 anos sem perder em casa (2011-2013) porque ninguém conseguia calar aquilo.

Destacar feitos da torcida virou banal, o que muitos fazem como histórico, o atleticano torna como normal. Até quando não podia ir aos estádios, a Massa se fez presente pra apoiar o time. Mais um dia qualquer, uma rua de fogo em setembro de 2020.

E, como vocês já sabem, o atleticano vive de lutar, lutar e lutar, o tempo todo. O próprio @filmedogalo que estreia 11 de novembro nos cinemas, mostra a missão de conectar o sentimento de possível e impossível que move o nosso clube. Por falar em hino, quando você vê aquelas camisas rodando, você já sabe o que vem por aí, e se você for adversário, eu sei que antes mesmo de ouvir, isso te causa medo. Não importam quantos sejam, quantos cantem, quando o hino é entoado, ele arrepia.

A torcida do Atlético merecia o mundo quando não ganhava nada em troca, lutou pelos céus mesmo quando todo mundo dizia que era impossível voar. Chegou nossa hora, nascemos pro protagonismo e é hora de brilhar. O time do povo vive e ainda vai incomodar muita gente. O atleticano, que é doido, de corpo e alma, nunca escolheu sofrer tanto por um amor, foi escolhido. Esse sentimento, o de pertencimento a uma coisa maior, é um lema que rege nosso destino. Títulos não nos comprarão, nunca foram o motivo disso tudo. O amor pelo Galo prevalecerá.

E quando falarem que você torce para um time pequeno, mandem ele estudarem mais sobre o fenômeno cultural chamado Clube Atlético Mineiro, o Galo Forte e Vingador.


Tá aí chorando né? Eu também.

Agora vai lá, dá uma moral pro Arthur e comenta esse texto espetacular dele.