Um Galo perdido tenta reencontrar seu caminho
Por: Guilherme Peixoto
21/07/2017 - 13:48
Após sete meses no comando do Atlético, Roger Machado deixou o clube nesta quinta-feira. O técnico não resistiu à oscilação da equipe, que teve como último capítulo a derrota para o Bahia, e acabou demitido pelo presidente Daniel Nepomuceno. Pelo Galo, o ex-lateral obteve aproximadamente 60% de aproveitamento.
Anunciado em novembro do ano passado, o discípulo de Tite chegou a Belo Horizonte com uma clara missão: tornar o Atlético um time mais equilibrado e racional. Entre dirigentes e torcedores, era consenso que o estilo “Galo Doido” não seria suficiente para a conquista de novas taças. Para evoluir, era necessário dar um basta aos problemas defensivos que haviam assolado o Galo em 2015 e 2016.
Logo que chegou, Roger optou por dar prioridade à defesa. As lesões de Leonardo Silva e Erazo, aliadas às constantes falhas individuais de Felipe Santana, impediam o treinador atleticano de definir um companheiro de zaga para Gabriel. Na reta final do trabalho, Bremer e Matheus Mancini conseguiram suprir com tranquilidade tais lacunas.
Titular desde 2012, Marcos Rocha sempre fora muito questionado por ser pouco efetivo na marcação. Acostumado às longas perseguições individuais e aos botes de primeira, Rocha demorou a assimilar os conceitos de Roger, que pedia ao lateral que “guardasse” posição. Na esquerda, em que pese um começo ruim, Fábio Santos conseguiu desempenhar bem as suas funções de marcação. Em linhas gerais, é possível dizer que Roger conseguiu melhorar o momento defensivo atleticano.
O trabalho desenvolvido pelo ex-técnico do Grêmio, porém, esbarrou em um evidente problema: a dificuldade na proposição de jogo. Apesar de se beneficiar da grande fase de Cazares, o Atlético “travava” ao se deparar com defesas extremamente fechadas. Baseada em toques curtos, aproximações e associações pelo lado, a filosofia de Roger acabava por gerar, em muitos momentos, uma troca de passes “estéril”. Não era raro ver o Atlético terminar partidas com Fred e Rafael Moura juntos, tendo as bolas altas como principal recurso. Dos 74 gols marcados neste ano, 20 foram no terço final dos “segundos tempos”, quando o “abafa” era comum.
Contudo, vale ressaltar que não é justo atribuir todos os problemas ao ex-treinador atleticano. As constantes ausências de Luan forçaram Elias a atuar aberto pela direita, posição onde o camisa 8 não tem seus melhores desempenhos. Robinho, tido como uma das referências da equipe, vive má fase técnica e não consegue ser sombra do que foi na temporada passada.
Sem contar com atacantes velozes, Roger dependeu muito de infiltrações e trocas de passe. Em algumas oportunidades, ele lamentou publicamente a ausência de um atleta de “vitória pessoal” e drible. Opções para mudar o rumo das partidas, Marlone, Otero e Valdívia pouco contribuem quando acionados. Os erros de finalização também assombram a equipe. Chances claras de gol, incluindo pênaltis, são desperdiçadas aos montes, influenciando diretamente nos resultados finais de algumas partidas. Contra Botafogo e Santos, por exemplo, dois erros em cobranças de pênalti ajudaram o Galo a desperdiçar cinco pontos.
O componente emocional, sobretudo no Independência, também atrapalhou bastante os planos traçados durante a “Era Roger Machado”. Os sucessivos resultados ruins em casa tornaram o Atlético um time nervoso, preocupado e ansioso. Para desestabilizar a equipe, bastava apenas não marcar gol no começo dos jogos. A situação ainda se agravava quando os adversários pulavam na frente.
Convicções e escolhas
Geralmente, as escolhas de técnicos no futebol brasileiro são feitas no modo aleatório. Não existem critérios ou linha de pensamento. A “cultura do resultado” e o imediatismo impedem que trabalhos promissores tenham sequência. O modelo de jogo está baseado apenas em um conceito: a vitória. Roger Machado foi apenas mais uma vítima da cruel engrenagem que faz girar o futebol nacional.
Com Rogério Micale, anunciado nesta sexta-feira, o Atlético tenta retomar um pouco do modelo de Cuca e Levir Culpi. Mais vertical e objetivo, Micale é marcado por dirigir equipes de grande vocação ofensiva. Mesmo assim, o campeão olímpico certamente não irá ignorar as melhorias proporcionadas por Roger Machado.
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Por: @ghpeixoto
Foto: Bruno Cantini / Atlético