Eterno triunfo de um atleticano

Por:
07/12/2011 - 04:07

Imagem estadão 300x240 - Eterno triunfo de um atleticanoImagem: Estadão

É setembro, o calor e ar seco podem provar a data. Adentro pela favela do São José, do lado da Avenida Pedro II, na capital Belo Horizonte. Percorro por becos imundos e sem qualquer tipo de auxílio por parte da prefeitura, vejo homens andando livremente com o que parece ser uma arma. Literalmente, a terra de ninguém. Finalmente, após minutos de apreensão e certa desconfiança por parte do moradores, encontro meu destino, a casa do Seu Haroldo. Visivelmente desgastada e com sérios riscos de ceder a qualquer momento que até mesmo um estudante de comunicação consegue visualizar as falhas da construção.

Encontro o homem, com ar triste. Retiro os quarenta reais da carteira e o entrego. Despido, o homem atira sobre minhas mãos seu manto, o seu sonho. Eis o peso da camisa, a camisa que já foi vestida por Éder Aleixo em 1981. Garantido e com um sorriso no rosto, me vejo completo, capaz de morrer - ali, naquele momento, naquele beco dividido entre o lixo e o esgoto - feliz. É mais uma para a coleção, agora, somam-se 67. Reflito sobre a futilidade e sobre Seu Haroldo. Na minha frente, um universo paralelo, onde a maioria compraria comida e água com aquele dinheiro. Penso se deveria ter ajudado mais o homem, que coleciona tristezas e desilusões com o clube que chego a orar a um Deus que não acredito.

Como aquele senhor conseguirá dormir aquela noite? Seu maior bem acabara de ser vendido a um estranho, por poucos quarenta reais. O dinheiro provavelmente o fará comprar o que precisa, mas o Atlético o fará viver. Retorno. Com uma lágrima no rosto, Haroldo me vê com sua glória. A devolvo ao homem e minto. "Não é a que eu procurava". Senti vontade de morrer, dessa vez, de tristeza. Estava sem meu tesouro, meu objetivo, meu sonho. Então, senti. Senti o que realmente é o Atlético para mim, pro Seu Haroldo, pro Kalil, pro Belmiro ou pra qualquer um dos outros oito milhões pelo mundo. O Galo era exatamente esse sentimento, que não é de triunfo e muito menos de ódio ou desapego, mas sim aquela vontade de estar junto com outro semelhante alvinegro e o fazer feliz também. É, talvez Deus exista sim, a ciência também não consegue explicar isso.

Lucas Ragazzi

Jornalista do Observatório do Esporte