Loucura que converte

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28/11/2012 - 21:50

Colunistas Fael Lima2 - Loucura que converte

O último jogo foi mais um daqueles dias que comprovam como a Massa está acima de tudo que existe no futebol. Atesta também que ela precisa se tratar de um quadro psiquiátrico, isso não é normal; e falo sério, coisa de medicamento, acompanhamento e tudo mais. Passei a semana tranquilo com a certeza que encontraria ingresso na hora do jogo, uma semifinal de Copa Sub-20, assistiria ao lado de parentes dos jogadores e talvez até saísse um hino puxado por um tio bêbado de algum jogador.

A ansiedade pelo jogo foi tanta que me esqueci da apresentação de um trabalho na faculdade no mesmo horário do jogo. A aula começou e eu estava lá, apresentei o trabalho, saí correndo pelos corredores, peguei um taxi e fui para o Independência. O primeiro tempo não havia acabado, então era comprar o ingresso com algum cambista e partir para o abraço. Sim, nós temos cambista em jogos da base e eles cobram até 50 reais em ingressos que custam 2 reais. Eles sabem da loucura, insanidade e paixão dessa torcida, por isso comprariam ingressos para revender até em par ou ímpar que tenha representante Atleticano.

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Foto: Bruno Cantini

Milhares de pessoas desciam as ruas Silviano Brandão, Pitangui e Ismênia, camisas Alvinegras de um lado para o outro em tom de desespero a cada minuto de jogo, ignoravam a chuva na noite de terça-feira, pois enfrentariam até uma tempestade para conseguir o ingresso. Não sabiam o nome dos jogadores, mas era o escudo do Atlético em campo e pra eles, isso bastava.

Gol. Acho que nunca ouvi um gol do Atlético do lado de fora do estádio. Alguns segundos de comemoração nas ruas e mais procura por ingresso. Desci o morro e fui para o ponto de ônibus com a esperança de chegar a tempo de assistir pela TV em casa. Peguei o celular para conferir a hora e... PIMBA! Uma mensagem de um amigo que guardava um ingresso pra mim. Liguei, ele levou até a catraca e entrei para finalmente assistir o segundo tempo. Cantei, apoiei, vibrei, incentivei e vi o Galão (nada de Galinho) ganhar com estádio lotado. Vários tios bêbados cantando o hino que nascia em algum canto das arquibancadas. Famílias que nunca foram ao estádio, crianças, idosos, todos ignorando a categoria, a chuva e o dia da semana. Coisa de Atleticano!

Acordei no dia seguinte, fui para o trabalho e depois passei na Sede de Lourdes para tentar conseguir ingresso para o próximo jogo. Em vão! Esse povo está cada vez mais insano, tenho certeza que em breve irão construir suas casas na calçada do clube para garantir local fixo na fila.

Uns poucos Atleticanos continuavam na porta da Sede e nos locais próximos, olhando para o horizonte, tentando entender tudo aquilo. Me aproximei de um amigo e antes que eu falasse algo, ele apontou para o cara ao lado e disse – “É cruzeirense!”

Não entendi nada. Apesar de não ser dono de uma boa memória, lembrei do garoto ao meu lado no ônibus na noite anterior, voltando para casa quase na madrugada, sorrindo, falando do jogo da base, planejando ir para a fila de ingressos na madrugada.

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Foto: Rodrigo Ávila

Perguntei novamente esperando que ouvisse um – “Tá doido? Sempre fui Atleticano!” – Mas ouvi um – “Já não sei pra que time eu torço.” Ele realmente tinha raízes frescas, me contou sua história, ia a jogos, com ídolos do lado de lá e tudo mais. Um dia resolveu conhecer a outra torcida por curiosidade. Aquele bando de malucos, povo sem juízo, que faz muito barulho, cantando o jogo todo – então foi a um jogo. Que jogo ele escolheu? Copa Sub-20, Atlético e Bahia, terça-feira com chuva – “Sem dúvida será estádio vazio, não tem como gostar de uma torcida nesse jogo, volto pro lado fresco da lagoa no dia seguinte.” Ele foi e, antes que o jogo acabasse, ele já cantava o hino e marcava com outros Atleticanos de estar na fila antes que o dia nascesse.

Ele estará vestindo preto e branco no clássico. Senti um ar de dúvida ainda e expliquei que meu pai também é azul e mesmo assim eu escolhi fazer parte dessa família Alvinegra. Contei sobre momentos marcantes que me deram a certeza de ter escolhido o melhor lado.

Saí feliz. De todas as idades, gosto de ver pessoas se convertendo ao Clube Atlético Mineiro. Mais um paciente psiquiátrico, cantou o hino uma única vez e já passa o dia com a camisa, vai pra fila de madrugada e enfrenta chuva. Esse vai ser uma vez até morrer.

Fael Lima

ABRAÇO NAÇÃO!

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Foto: Rodrigo Ávila